19.4.05

Carta de despedida que nunca vais lêr


Queria escrever-te uma carta. Uma carta que fale por mim, com as palavras que sinto vontade de dizêr, mas não consigo.

Que te leve por mim a minha vontade de te não têr e que seja ao mesmo tempo uma carta e uma mensagem de despedida, completa, definitiva, tão definitiva quanto a morte.

Porque o que me corrói é desamôr na completa ausência de paixão dos sentidos que não se explica por palavras ditas mas se sente na carne nas noites assombradas pelo teu corpo que não desejo nem suporto, mas a que me obrigas.

Definitivamente não te odeio, simplesmente não consigo amar-te. E sei quanto queria que fosse diferente e que fosses capaz de entender isto. Mas tambem sei que seria pedir demais a quem em mim apostou práticamente a vida.

Amo sim o fruto que geraste no teu ventre, de uma forma única, redutora, apaixonada. E na contradição inultrapassável, entre o meu desamôr por ti e a avassaladora paixão por aquilo que me deste, acabo esta carta que nunca lerás depositando-a no lixo em que transformei os meus dias.