15.6.08

Noites de Maputo


Depois de dois anos de afastamento voluntario das tertulias e das vivências nocturnas de Maputo, um jantar de sabado à noite entre amigos, deu o mote para uma visita a uma das catedrais na moda.
Entre a fauna femenina uma esmagadora maioria de caras desconhecidas. Impressionante a forma como a paisagem muda. Conhecidas, apenas algumas poucas resistentes ao tempo, que teimam em adiar a reforma e não deixar crescer as teias de aranha.
Centenas de corpos esculpidos, rostos frescos e bonitos. Tambem muita vaidade, rugas prematuras e banhas a necessitar de ginásio. Alcool em quantidades industriais e o instituicional engate ocasional que nunca muda. Um ritual caracteristico da noite de Maputo onde a oferta normalmente vence claramente a procura.
Sou abordado e reconhecido por uma das antigas combatentes, recordada por esticar a noite até a famosa hora das vassouras na esperança de uma derradeira oportunidade. Sem perder tempo enquanto coloca um ar de donzela perdida dispara-me ao ouvido:
- Estás em forma, parece que o tempo não passa por ti! Sózinho ou trazes mochila?
Perante a ostensiva rapidez do ataque, destreinado e desabituado, meto os pés pelas mãos:
- Isso é dos teus olhos. Tu é que estas cada dia mais interessante!!
Aproveita o embalo e responde-me certeira:
- Nada disso, tou é mais velha, carente e puta! E sem grande paciência para perdas de tempo!
Protejo-me finjindo nem ter ouvido. Desvio a conversa para banalidades ainda maiores enquanto certifico que, se afinal algo mudou nos ultimos dois anos foram apenas as moscas.