26.9.06

Fragmentos


Os dias correm como que em carrocel desgovernado. As certezas são quase nenhumas e a cada hora menos ainda. O espiral frenético das incertezas tomou conta dos momentos e o acordar tornou-se tão doloroso como as antecedentes horas de insónia em que se mergulha antes de adormecer.

Tudo o que ficou atrás deixou de fazer algum sentido e o que vem aí mete medo. Em cada acto de viver sente-se a opressão do sentido e do rumo da vida. Em cada passo oprime-se a decisão de ir á frente na prespectiva eminente do abismo.

Quem vai olhar com complacência aquele que falha sistemáticamente?. Que corda pode salvar alguem que se perdeu nas contradições da vida? A lançada por quem ainda acredita na irreversabilidade do destino ou a da forca?

Não se sabe morrer sózinho por mais treino que se tenha. O tempo parou no tempo de tantos erros carregados nas costas. Falta a luz e a inteligência ou a lucidêz. Faltam sobretudo certezas de se poder voltar a errar sem aumentar a dívida para com todos os que reclamam. Quantas créditos mais tem a vida de um ser humano quando a estrada chega ao fim?. Como se descobre qual o momento certo para mudar e qual o rumo?.

Agoniza-se na prespectiva de mais surprezas que á muito deixaram de o ser. Coloca-se um ponto final na curiosidade. Findada a capacidade de experimentar e de mentir mesmo sabendo-se que toda a gente mente. Parco consolo apesar de ser certo que contrariar isto é sustentar a grande mentira de toda a humanidade. Mente-se no amor, no trabalho, na amizade e na capacidade esgotada e já inexistente de dar mais. Sobretudo mente-se a nós próprios para não ter de auto-justificar as próprias insuficiências. Minimizar esta caracteristica inata é apenas um paleativo porque as mentiras dos outros só nos dizem respeito se criadas ou inventadas acerca de nós. Apesar de em conciência se saber que somos em grande parte responsáveis por elas porque as ajudamos a nascer atravéz da nossa própria mentira de vida.

Quem não encara a sua própria verdade, não pode esperar que não lhe mintam. Isso mesmo. Encarar a verdade e fazer dela o modus vivendi da sociabilidade é uma das saídas possíveis. Despir os fantasmas de serenidade e encarar de forma clara as angustias e as depressões afogadas em orgias de tudo e mais alguma coisa coisa desde que sirvam para esquecer. Invocar espiritos renegados e esquecidos até que ganhem vida. Abrir as portas do armário e colocar na janela todos os esqueletos guardados ao longo da vida. Para que os outros não se limitem a falar do que julgam saber ou daquilo que querem saber e os interroguem para memória presente e futura e julguem com verdade. Fantasmas não mentem.

Para que acabem as perguntas que não tinham o direito de fazer dado que não existem respostas fáceis para questões tão complexas como a coerência de um homem. Para que finalmente se encarem os factos como eles são e não apenas através da perspectiva redutora do próprio umbigo. Com verdades limpas e mentiras claras.