28.5.08

Estrada do Abismo


Não me encontro. Procuro-me e apenas um manto de névoa me povoa o cérebro. Todos os sentidos lógicos se transferiram ou abandonaram. Habitas-me como um inquilino fantasma. Sinto-te como uma segunda pele.

Talvez as respostas me surjam dos embates na parede contra a qual me atiras, quando na ansia do desejo me levas aos tectos infindáveis do teu corpo. Talvez a lucidêz volte enquando me obrigas a beijar o tapete vulcânico da tua pele incendiada e qual contorcionista trepas o espaldar da cama. Talvêz encontre uma explicação nas entranhas fecundas da terra onde penetro, quando o teu corpo se abre ao meu exigindo urgências. Talvez transforme esta necessidade de ti em repulsa, quando de mãos amarradas no teu peito e olhos cravados nos teus olhos, usas e abusas deixando-me o corpo trespassado pelas tuas garras sedentas de carne. Talvez, um dia sinta uma vontade irreprimível de te dizer que não e consiga bloquear a tempestade de argumentos que seguramente usarás a favor do sim. Talvez... não sei...

Não quero mais antever onde esta estrada vai terminar. Vendado, ignorarei os inumeros avisos espalhados ao longo das bermas. Por mais que abra os olhos, apenas tú és a resposta. A partida e o destino final, celebrado em épicos episódios de intensidade ascendente e viciante que me deixam cada dia mais perto do impossivel. Desisto de pensar. Caminho ás cegas, apenas. Guio-me pelo perfume caro do teu corpo e pelo intenso odor proibido que deixas em mim no final de cada noite.
Resignadamente impotente, deixo de procurar a explicação lógica para aquilo que me acontece. Ao longo da vida tenho-me martirizado na busca interior das respostas, quase sempre incompletas e apenas justificadamente sofríveis internamente. Desisto. Contigo abandono-me á sorte ou mau destino do livre arbitreo.

O previsível abismo que mereço é já ali.