Plantei uma roseira num vaso que coloquei num local nobre do jardim e que se recusa ano após ano a oferecer-me uma rosa que seja, esquecendo que uma das principais funções de uma fêmea mesmo que roseira é gerar filhos. Estimo-a e trato-a com enlevo. Chego até a amá-la por mais estranho que isso pareça. Ofereço-lhe água todos os dias e periodicamente estrumo-lhe a cama. Protejo-a do frio do inverno, do sol escaldante, do vento agreste e da chuva intensa. Canto-lhe antigas canções de luta, as únicas que decorei dos tempos empolgantes em que ainda acreditava em causas, ao mesmo tempo que lhe remexo lentamente a terra á volta do caule. Chego até a recordar-lhe a minha sincera desilusão por ela não querer dar-me apenas que seja uma rosa e assim retribuir o muito tempo e trabalho que lhe dedico. Das expectativas goradas em um dia sentir o aroma de uma rosa fruto da nossa relação unica. Um dia destes falei-lhe de memória, um poema de um poeta excomungado que morreu enlouquecido pela loucura do mundo. No outro contei-lhe resumidamente a historia dum príncipe que abandonou o seu planeta numa viagem por outros planetas, mas nunca se desligou de uma roseira que lá deixou. De nada tem servido. Indiferente e altiva pareceu nem me escutar apesar de eu saber que ela me ouve e vê pois quando dela me aproximo demasiado as folhas ficam mais verdes e eriça os espinhos de forma ameaçadora.