7.6.11

Portugal


Portugal foi a votos. Um país enfraquecido pela crise mundial e por um governo dito socialista, de joelhos perante os tubarões financeiros, a banca agiota e os interesses corporativos e económicos daí resultantes. Dos cerca de 9,4 milhões de votos possíveis, 59% dos eleitores compareceu votando maioritariamente numa viragem á direita. 500.000 votos fizeram a diferença. Os restantes 41% alhearam-se da escolha. Saber que razões levam tantas pessoas a não votar e caracterizar o possível sentido de voto destes abstencionistas, será um trabalho para os estudiosos nestas coisas mas não deixa de ser interessante saber até que ponto ele influencia o resultado final.

Com a catastrófica situação das contas publicas, aquilo em que convictamente acredito é que com esta escolha, os socialmente desprotegidos, trabalhadores por conta de outros, desempregados, idosos reformados, mulheres, que são os verdadeiramente atingidos pela actual situação do país e são sem dúvida a maioria dos eleitores, estarão bem pior daqui a 4 anos que estão hoje.

Muitas das medidas de protecção social criadas nos últimos anos vão desaparecer ou serem reduzidas. Os impostos e os preços dos bens primários, vão aumentar o que atinge a totalidade dos portugueses, o custo e acesso ao crédito vão ficar mais difíceis, sendo que este item abrange cerca de 90% da população. Numa situação destas, impunha-se um estado mais virado à criação de almofadas sociais que amenizassem o choque brutal que já começou. Com a direita nada disto vai acontecer. Será certo que os salários serão congelados durante 3 anos ou mesmo diminuídos e o acesso barato a direitos universais como saúde, segurança, transportes e educação, serão dificultados ou mesmo vedados. Isto para não falar do emprego jovem que será o maior problema da próxima década. Ter milhares ou mesmo milhões de jovens desocupados ou em empregos precários é potencialmente equivalente a viver em cima de uma bomba relógio com o programador avariado.

Estou também certo que todos aqueles que têm aproveitado esta crise para engordar as suas já anafadas contas bancárias, que são claramente a minoria, estarão ainda mais ricos no final da legislatura. Os gestores da crise são seus representantes eleitos e só não tirarão o máximo proveito da situação se forem burros. E claramente não o são.

Por esta razão não entendo porque a maioria dos eleitores que foram ás urnas votou á direita e menos ainda, porque parte significativa dos eleitores escrutinados se absteve de votar. Muito provavelmente a inexistência de uma figura carismática e credível na esquerda social, a arrogância obstinada de Sócrates, a inépcia politica de Lousã e o discurso empedernido e repetitivo dos comunistas, sejam uma explicação. Mas não è conclusiva para mim. Até porque, ao contrário dos primeiros, estou em crer que aqueles que de alguma forma se têm beneficiado destes tempos difíceis, estiveram lá todos a colocar o voto.

O sistema democrático com todas as suas virtudes inatacáveis, é também em situações como esta de uma perversidade atroz.