7.5.08

E assim se foi...


Sonhei comigo esta noite

vi-me ao comprido deitada

Tinha estrelas nos cabelos

em meus olhos madrugadas

Sonhei comigo esta noite

como queria ser sonhada

Senti o calor da mão

percorrendo uma guitarra

De longe vinha um gemido

uma voz desabalada

Havia um campo de trigo

um sol forte me abrasava

E acordei meio sonhando

procurando me encontrar

Quando me vi ao espelho

era teu o meu olhar.


Um anjo (diabólico?)

MAIMUNA BUNDASTAG da Araújo Street

Com respeitosa vénia a João Craveirinha!

EXÓRDIO
Maimuna era uma mulher exuberante mesmo nos seus 65 anos de idade, restos dos tempos da sua beleza radiosa, do ano de 1960 com 20 anos. Era daquele tipo de mulher de pele de veludo cor de cacau que antes de entrar num sítio já estava entrando com seus mísseis Pershing peitorais, made in Moçambique, dali dos lados de Inhambane. E depois de sair passando por uma porta, ainda estava saindo com o seu Bundastag rico e volumoso como um Parlamento, mas para melhor, pois muito bem torneado, proporcionalmente. Aliás era no seu Parlamento (de Maimuna), onde grandes debates poliglotas tinham tido lugar. Isso, antes da queda (?!) do muro da vergonha das bandas da Araújo street, na antiga Lourenço Marques do xicolonhi muMadji, vulgo Português de “Lijibóa”.
Bem, Maimuna tinha um corpo fantástico, adelgaçando-se numa cintura fina, cintura de pilão explodindo numas ancas poderosas e afunilando-se no seu centralismo democrático, num estreito de Gibraltar com um V de vitórias confirmadas, dos inúmeros desembarcados na praia molhada de Dunkerque, do seu canal de Moçambique. Maimuna, provinha de Inhambane, conhecida pelas noitadas dos bailes de “chongaria” no barracão em “Santarém” no meio do coqueiral, não longe da Fortaleza na terra dos “fai Kóko”. Região de especialistas da cozinha fina “afrodisíaca”, de mariscos com leite de coco ou de amendoim, arroz branco solto, “ashar” de manga picante e da deliciosa casquinha de caranguejo de Inhambane e ainda bolinhos, chá carregado tipo Ceilão, bem quente, com leite condensado. Mas isso são coisas do passado em que Maimuna coitada, depois de abandonar a terra natal “migrando” para caMpfumo (Lourenço Marques), sobreviveria na Araújo street, hoje reclassificada como rua de Bagamoyo, em (des) homenagem a essa escola dos tempos da luta armada contra o “inkalonhi mupuiti”. Traduzido do kiMakonde, dará colono português.

DESENVOLVIMENTO
Ironicamente, Bagamoyo (Tanzânia), ao contrário desta (rua), Bagamoyo falsa, era uma escola secundária por onde passaram quadros do Moçambique Independente. A rua Bagamoyo em Maputo, é uma reciclagem da rua Araújo “ mui mal parida” da prostituição. Na verdadeira Bagamoyo em Tanzânia (1968 / 1974), pelo menos nesse tempo, não se falsificavam certificados de acesso à Universidade. Actualmente, talvez seja possível não ter a 9 ª classe e com o dinheiro do pai comprar em alguma Escola Secundária ou Universidade Moçambicana, esse acesso Universitário e com mais dinheiro e sorte lá virá uma bolsa de estudo talvez para Portugal onde esse estudante poderá se alienar totalmente. Não havia o mínimo de bases ao sair de Moçambique. O que esperavam? Milagres ou maCumba? Pior que no tempo colonial dos “negros assimilados portugueses”. Esses pelo menos tinham “staile e finesse”. Bebiam conhaque com os “ drs brancos”, fumavam charuto, e a maioria só com 4ª classe. Até se davam ao luxo de brincar com a língua portuguesa escrita, falada e de bonita caligrafia. Tal era o nível superior para irritação do cantineiro “reinol”, vindo do “Reino” de Portugal. Ele que vinha civilizar os “pretos” sairia civilizado com estes. É !! Contradições do colonialismo em África!

CONCLUSÃO
Mas voltemos à nossa personagem. Maimuna, Rafique (amiga em suahili), seu nome de nascença. Foi apelidada de Bundastag por um marinheiro alemão –, o Fritz de Hamburgo, freguês habitual, quando o seu navio mercante aportava a LM, cidade colonial capital. Essa assiduidade germânica, ficaria impressa no código genético dos olhos verdes e cabelo alourado de um de seus filhos.
Em 2005, Maimuna já uma respeitável senhora e avó de família, andava triste. Passara por todo um processo de auto-reabilitação com o seu engajamento (não dos “gajos” que conheceu), mas sim nacionalista no assumir de uma consciência de pessoa humana, vítima também de um colonialismo que pelos vistos a perseguiria (não a eterna “Perseguida” no meio das suas coxas), mas perseguida pelo passado (com suas “ex-colegas”), através de fotografias expostas no carrossel das auto – estradas da comunicação. Torna-se grave, sem a devida auto-censura, no mínimo, tapando os olhos das retratadas, reconhecíveis pelos seus descendentes, amigos e sabe – se lá mais quem. Este tema na “Linha d'Água”, não se afundou e navega muito bem pelas auto-estradas do cyber espaço neste momento. Abusar passados 45 anos, ainda, com as inguavaniçes (prostituições) da imagem, à custa das coitadas vítimas do xicolonhi, é indigno. Talvez porque essas mulheres retratadas, sejam material de ÉBANO (para os autores), e não seres humanos.
Daí a insistência “exibicionista” para gáudio da sociedade machista e as mulheres infelizmente ainda batem palmas. Se isso fosse na Europa ou América, sem consentimento das visadas, dava Tribunal, porque NÃO PRESCREVE no tempo.
João Craveirinha