Ele aparenta uma calma serena. Quase sempre digno. Ás vezes apático mas, altivo e aparentemente seguro. Nunca ninguém o viu recuar apesar de já lhe terem apontado algumas fases de alguma indecisão. Considera-se experiente porque vivido. Pratica e cultiva o gosto de ouvir sem os julgar. Talvez por isso as más experiencias dos outros encontram um porto seguro no seu ombro. As boas, a recompensa de palavras de incentivo e aplauso e o porto seguro. Demasiadas vezes e demasiadas amantes, no momento da separação lhe disseram, que jamais esqueceriam a sua faceta de amigo, a sua disponibilidade e a sua capacidade para compreender e aceitar. O que ele intimamente acredita não abonar muito a seu favor porque demasiadas. A única pessoa de quem não é verdadeiramente amigo é dele mesmo, dado que compreende e relativiza facilmente qualquer erro grave de alguém próximo, mas é incapaz de encontrar uma brecha onde enterrar o seu próprio passado. E o presente também, por reflexo. Até porque evita pensar no futuro para não ter aquelas insuportáveis recaídas de hipertensão. O passado é como que uma mochila carregada de pedras de que nunca se desfaz senão quando dorme. Aí atormentam-no os sonhos que invariavelmente têm como personagem principal ele mesmo. Carregado de incoerências e arrependimentos. E os fantasmas de estimação, omnipresentes nas mais diversas situações influenciando e marcando o ritmo. Sempre os mesmos. Pesados como pedras carregadas numa mochila ás costas.