25.9.06

Maputo - Seduções I


Por muita carência que se transporte no corpo e na alma um homem nunca está devidamente municiado para uma cena de sedução quando visita certos locais. Por exemplo na oficina de automóveis entre oleos mal cheirosos e fatos macaco sebentos, jamais passaria pela cabeça de um mortal dar de olhos atrás do balcão das peças com um par de faróis grandes e brilhantes emoldurados por um rosto fabuloso de pele chocolate e lábios grossos a encimar um busto mais que meio descoberto de cortar respiração de tanta sensualidade. Mas acontece. E que fazer num momento desses senão tocar a reunir as tropas, respirar fundo e atamancar uma estratégia de ultima hora que possa conduzir aquela barco a praia segura.
Ultrapassado o factor surpresa que normalmente deixa um pobre macho meio desarmado, passa-se á ofensiva que já dizem os experts nas coisa do futebol, é a melhor defesa. E assume-se uma posição em campo que demonstre de forma clara á femea desafiante que já percebemos o alcance daquela investida e não estamos ali para ser provocados sem ripostar.
Claro que a aproximação se faz atravéz da complexa rede de códigos sinaléticos emitidos por olhares implicitamente questionadores de onde tens andado que nunca te tinha visto? ou ainda mais claro podes aguardar que já te apanho o numero do cell ou um redutoramente conclusivo vai ser na tua flat ou lá na alcatifa do T1?

Depois de um complicado jogo de passos por entre diferenciais, motores e caixas de velocidade espalhados pelo pavimento, tenta-se vencer o labirintico espaço que nos separa fisicamente do balcão e sem nunca desviar por mais que breves segundos os olhos do objectivo, encosta-se o tronco ao balcão e continua-se o jogo agora num já quase corpo a corpo.
Sem muito mais para dizer coloca-se um ar meio desesperado e atira-se com será que vai demorar muito a concluirem a reparação do meu chasso? Ao que ela atrevidamente replica com um explicito espero que apenas depois de receber o seu convite para jantar. Aqui já não existe forma de voltar atrás e uma mão répticiamente levada ao bolso da camisa deixa no balcão um cartão de visita que rápidamente é escondido num qualquer local da vestimenta que guarda aquela corpo de deusa.
Agora resta esperar pela chamada com a certeza absoluta de experiência feita, que o velho Nókia vai cantar nas próximas horas e que a balconista das peças vai de certeza cumprir todas as promessas feitas naqueles breves instantes em que apenas com os olhos ofereceu todos os imensos tesouros e mistérios que são o seu corpo e o espirito livre que é o grande legado genético que esta Africa, cada dia mais misteriosa e fascinante, deixou aos seus filhos.