19.1.09

Tarde, quase sempre....


Entras-me no pensamento enquanto olho o fumo do cigarro que sobe ao longo dum ténue raio de luz e se desfaz na penumbra da sala. Chegas acompanhada daquele perfume forte que te sai dos poros e que, como um fantasma de estimação me persegue para todo o lado com o unico objectivo de me recordar de ti e complicar ainda mais a vida. E, como sempre, reprimo a vontade de pegar no telefone e te gritar aos ouvidos o desejo necessário e urgente que me invade o corpo á tempo demais. Sei-te livre e disponivel. Mas não consigo confessar-te por palavras que sei exatamente a que cheira o teu corpo transpirado quando solitária deixas correr as mãos e os dedos pela pele quente. Porque não encontro forma de justificar a razão de te comparar com cada uma daquelas que me partilham e que quase nunca deixam mais que a breve intensidade de um extase. E sobretudo como não ser vulgar ao confessar-te que te desejo mais que qualquer outra, mesmo aquelas que conheces e a quem criticas por eventualmente terem “caído na minha teia”, como afirmas segura e certa de que contigo nunca seria assim.
Aprisiono a vóz mas não o calor que me amarra ás memórias daquilo que nunca tive e provávelmente nunca terei. Desculpo-me na tua incapacidade para me perceber teu prisioneiro sem que seja necessário dizer-to na cara. Não me atrevo sequer pensar que a distancia de ti a que me obrigas, é apenas e só, a tua forma de me sentir. E na minha incapacidade para te demonstrar que apesar de assim estarmos socialmente livres da má lingua costumeira, o nosso unico lugar compensador era socializarmo-nos um no corpo do outro.
O fumo do cigarro á muito desapareceu engolido pela pouca pela luz que passa atravéz do cortinado. Fica o teu perfume a pairar na sala vazia onde vagueia intruso, o teu fantasma. E a absoluta certeza que comecei a adiar-me no dia em que te conheci.