18.7.08

Pendentes!




Sabes, completei à poucos dias 35 anos. Claro que te esqueces-te como sempre. Tenho um emprego razoável pelo qual sou paga muito acima da média da maioria. Continuo a ser assediada por homens mas estou solteira pois sinto-me incapaz de ceder a principios que considero inegociáveis só para ter um na cama todas as noites. Tenho o futuro minimamente garantido até porque a falta de emoções fortes e a rotina trabalho casa permitem-me ir amealhando alguma coisa. Estou portanto em época e idade de balanço e por isso mesmo tenho andado a tentar arrumar o passado na tentativa de tornar o futuro ainda mais leve. Para isso criei gavetas fundas com fechaduras grossas que guardarei nos esconços escuros da memória e onde estou a tentar encerrar os meus fracassos e frustrações desta primeira metade de vida. Garanto-te que já fechei muita tralha bem arrumadinha, mas desde á uns dias que tento em vão encontrar um lugar para guardar o que me resta de ti e a tarefa começa a complicar-se. Primeiro tentei alojar-te juntamente com a licenciatura por acabar mas ela ocupava demasiado espaço e não cabia lá mais nada. Depois com aquela desilusão de amor dos 18 anos que me acabou com a virgindade fisica e uma passagem pelos infernos da parteira cubana, mas sinceramente achei que misturar-te com tanta medos e angustias não combinava nada contigo e podia arrepender-me um dia. Tentei ainda arrumar-te junto daquele fracasso que foi a tentativa de fazer publicar um livro mas acabei por desistir dado que com a tua mania de corrigires o que escrevo ainda passarias as noites a bater na madeira para dar palpites e incentivos. Hesitei em acomodar-te ao lado do desprezo que sinto pela cabra da minha ex-melhor amiga de infancia, que me traiu contigo naquela fim de festa do meu 30ª aniversario em que ingénuamente te pedi que a levasses a casa pois estava demasiado cansada para a acompanhar e acabas-te por acordar na cama dela na manhã seguinte, mas desisti. Por certo ainda acabariam por se enrolar de novo dentro da minha gaveta rindo-se da minha falta de tino para entender as "coisas que acontecem sem nós querermos". Agora, depois de arrumado quase tudo resta-me apenas uma gaveta e dois fantasmas para guardar para sempre. Serão os mais complicados por serem talvez os mais dolorosos e importantes. Um, a desilusão de nunca ter sido nunca mãe, apesar das inumeras vezes que te abordei a esse respeito a que tu respondias com silencios de negação e o outro a doce recordação das noites de paixão e sexo que partilhámos e a que deixaste de comparecer quando o meu peso aumentou e a tua idade pedia carne mais fresca e novas emoções. Se me permites uma suprema humilhação, antes de fechar a gaveta e fazer a chave voar pela janela dos fundos, gostaria de te voltar a colocar a unica questão importante que me recordo de algum dia te confrontar. Estarás disposto a deixar-me fechar a gaveta que me resta, apenas contigo lá dentro proporcionando-me algo que juro saberei merecer para todo o sempre? Garanto-te que te fecharei na manhã seguinte á confirmação médica, deixando-te com a chave para saires quando quiseres. Como sempre foi. Saberei esperar a tua resposta.
Um beijo