8.10.08

Crónica de um fim anunciado II


Encruzilhado e expectante agacho-me pela milionésima ocasião, na esperança de uma resposta coerente. Consigo que se sente a meu lado. Suavemente peço-lhe que me escute. Solectro as palavras antes ensaiadas sem nunca alterar a vóz nem a olhar nos olhos. Enfatizo as razões e o sentimento. Evito referir qualquer possibilidade de cobrança ou pagamento de favôr. Existe uma coerência lógica na sequência dos argumentos (penso eu). Rebatível por certo, mas lógica e clara. Termino com um pedido de resposta mesmo que adiada. Sim ou não, olhando-a ostensivamente nos olhos. Mal debita as primeiras palavras revejo o mesmo filme de sempre. Nada do que levei horas a ensaiar e breves minutos a resumir, foi entendido ou muito provávelmente sequer ouvido. Absurda conversa de surdos. Invade-me a raiva que pede para perder a compustura e as estribeiras. Cerro os punhos e páro tambem de escutar. Contenho-me com esforço á custa de muitos batimentos cardiacos extra. Vou perder-me em mais horas de ensaios. Insistirei argumentando mesmo sabendo que para partir esta rocha acabarei por ter de usar dinamite. Aproveito um momento de distração da Princesa e saio para voltar o mais tarde possível. Não desistirei nunca.