29.5.07

Sonho


entraste-me no sonho como um mergulho (in)voluntário nas águas revoltas do indico.sabes, desde o dia em que te mudás-te para o outro lado, não consigo passar pela baia sem olhar lá longe na vã tentativa de te observar passeando na areia.
tomás-te de assalto o quarto e o meu corpo e transformàs-te como sempre uma noite serena de sono numa aventura quase louca.
tinhas olheiras escuras e cavadas abaixo dos dois lagos luminosos com que a natureza te brindou. cabelo agora mais comprido, solto e perfumado. a pele fria que vestias sobre o corpo nú arrepiou-me ao primeiro contacto. abracei-te inteira na serena urgência do reencontro enquanto a tua boca percorria caminhos que apenas ela conhece e que invariavelmente me transportam a lugares novos, únicos. usaste-me inteira no tempo sem medida de um sonho, saciando a tua fome de vida e a minha de ti.
o teu corpo e o teu aroma femea. fusão que me persegue em flashback permanente desde aquele fim de tarde memorável que me obrigou a reavaliar tudo quanto considerava saber acerca das muitas formas de amar.
saiste no momento da viagem regressiva da oitava onda, deixando-me como sempre incapaz de te prender ou sequer esboçar um ténue pedido para ficares ate sêr dia.
obrigado pela visita. cumpre-se a promessa jurada entre nós de nunca deixarmos morrer a chama. eu faço a minha parte sonhando-te. tú a tua visitando-me o sono.
apenas um reparo. na próxima noite vem um pouco mais cedo. as madrugadas estão frias e as insónias pós partires entram inexorálvelmente pela manhã, tornando-me o dia numa agridoce ressaca de ti.