14.8.07

Memórias a preto e branco


estranho.
consta por aí que nos amámos em tempos. que o nosso amor até afrontou a moral vigente nas regras da cartilha retrógada, instituída por aqueles que por falta de vida própria vivem a dos outros. referem pormenores sórdidos e passiveis até de excomunhão. falam de caricias infames partilhadas em público enquanto os corpos transpirados se colavam nas pistas de dança. citam os beijos prolongados até á exaustão com o mar como fundo e o sol quente de dezembro como cumplice. criticam as mãos ousadas que trocavam de corpo debaixo dos casacos nos nossos passeios de fim de tarde pela marginal.

estranho.
não me recordo de absolutamente nada destes factos. não sinto nem guardo mais nada deste tempo que não seja medo. medo de a partir do nada que eu diga ou faça, recomeçar mais uma qualquer acusação gratuita e falsa. medo da incontrolável loucura que te possue
de cada vêz que deixas entrar em ti a irracionalidade da doença incurável do ciúme. medo de um dia não ousar conter a raiva e em vêz de bater com a porta, bater-te a ti. medo de mim. medo daquilo que não consigo compreender por mais esforço que faça. medo de antes de desistir voltar a insistir.

Estranho.
Instalou-se-me uma branca que apagou todo o arco iris de quatro anos de vida. espero que o tempo ajude tambem a apagar o buraco negro em que me meti.