29.9.06

Ausência


Não tenho a certeza que eu seja a pessoa certa para ti, talvêz porque não consegui nunca perceber o que é isso da pessoa certa. Sei que a pessoa certa não tem necessariamente de ser sempre a mais inteligente, a que escreve as mais belas cartas de amor, a que tem apenas sorrisos no final de cada dia ou a que planeia viagens ao outro lado do mundo. Não tenho a certeza que sou a pessoa certa para ti, porque apesar de querer muito ficar contigo nunca tive a coragem de o dizer-te olhos nos olhos. Mas eu sei de saber confirmado que ser o homem da tua vida seria realizar-me. Porque me fazes falta e principalmente porque a tua ausência de mim me dói. Muito.

Tive medo e ansiedade e depois pressa em conquistar-te, porque sei com quem desejo passar o resto da minha vida e como ninguem sabe quanto tempo é o resto desse tempo, corri para depois travar neste impasse que a cada dia me mata. Mas as certezas essas nunca desapareceram. Antes pelo contrário. Aumentaram.

Queria abraçar-te e entrar em ti com a surpresa da paixão da primeira vêz e com o desejo mal contido de todas as seguintes. Queria ouvir em cada final de dia a música da tua vóz e cantar-te baixinho aquela canção igual a ti, antes de adormeceres. Queria ler-te alto os poemas daquele livro que me ofereceste e respeitar os necessários silêncios vindos de dentro das cicratizes que só o tempo poderá apagar em nós.

Queria muito ser o teu amigo e confidente. Queria muito ouvir-te falar das tuas angustias e alegrias, das muitas vidas que viveste e dos mundos que te deram aquilo que és. Da troca de experiências, dos arrependimentos e das nossas loucuras e muitos erros. Queria olhar com os teus olhos aquele mar que ambos gostamos. Queria ouvir contigos os risos inocentes daqueles que amamos mais que a própria vida, correndo livres na areia da praia.

Posso não ser a pessoa mais coerente ou corajosa do mundo, mas sou de certeza uma pessoa a quem conquistás-te completamente. Posso não ser um incurável romântico que te cobre de flores ou corre para os teus braços em cada sms, mas sou de certeza o homem que é capaz de te puxar o edredon para os ombros a meio da noite para não te constipares ou suportar as tuas birras no final de cada dia mau.

Não te disse tantas vezes quantas devia o quanto te quero, mas sinto cada dia com mais certeza que te conseguiria amar para sempre. Não sou aquele que te procura todos os momentos mas sou de absoluta certeza aquele que nunca te esquece em cada noite.

És muito importante na minha vida. Reconhece-lo não me foi nem é dificil. Falta-me o golpe de asa. Falta-me ser eu. Falta-me ter a certeza de ser o homem que esperas que seja apesar da subjectividade. Falta-me a certeza que necessitas de mim e que serei capaz de te dar tanto quanto julgo ser capaz. Falta-me a certeza da outra metade que sou eu.

26.9.06

Fragmentos


Os dias correm como que em carrocel desgovernado. As certezas são quase nenhumas e a cada hora menos ainda. O espiral frenético das incertezas tomou conta dos momentos e o acordar tornou-se tão doloroso como as antecedentes horas de insónia em que se mergulha antes de adormecer.

Tudo o que ficou atrás deixou de fazer algum sentido e o que vem aí mete medo. Em cada acto de viver sente-se a opressão do sentido e do rumo da vida. Em cada passo oprime-se a decisão de ir á frente na prespectiva eminente do abismo.

Quem vai olhar com complacência aquele que falha sistemáticamente?. Que corda pode salvar alguem que se perdeu nas contradições da vida? A lançada por quem ainda acredita na irreversabilidade do destino ou a da forca?

Não se sabe morrer sózinho por mais treino que se tenha. O tempo parou no tempo de tantos erros carregados nas costas. Falta a luz e a inteligência ou a lucidêz. Faltam sobretudo certezas de se poder voltar a errar sem aumentar a dívida para com todos os que reclamam. Quantas créditos mais tem a vida de um ser humano quando a estrada chega ao fim?. Como se descobre qual o momento certo para mudar e qual o rumo?.

Agoniza-se na prespectiva de mais surprezas que á muito deixaram de o ser. Coloca-se um ponto final na curiosidade. Findada a capacidade de experimentar e de mentir mesmo sabendo-se que toda a gente mente. Parco consolo apesar de ser certo que contrariar isto é sustentar a grande mentira de toda a humanidade. Mente-se no amor, no trabalho, na amizade e na capacidade esgotada e já inexistente de dar mais. Sobretudo mente-se a nós próprios para não ter de auto-justificar as próprias insuficiências. Minimizar esta caracteristica inata é apenas um paleativo porque as mentiras dos outros só nos dizem respeito se criadas ou inventadas acerca de nós. Apesar de em conciência se saber que somos em grande parte responsáveis por elas porque as ajudamos a nascer atravéz da nossa própria mentira de vida.

Quem não encara a sua própria verdade, não pode esperar que não lhe mintam. Isso mesmo. Encarar a verdade e fazer dela o modus vivendi da sociabilidade é uma das saídas possíveis. Despir os fantasmas de serenidade e encarar de forma clara as angustias e as depressões afogadas em orgias de tudo e mais alguma coisa coisa desde que sirvam para esquecer. Invocar espiritos renegados e esquecidos até que ganhem vida. Abrir as portas do armário e colocar na janela todos os esqueletos guardados ao longo da vida. Para que os outros não se limitem a falar do que julgam saber ou daquilo que querem saber e os interroguem para memória presente e futura e julguem com verdade. Fantasmas não mentem.

Para que acabem as perguntas que não tinham o direito de fazer dado que não existem respostas fáceis para questões tão complexas como a coerência de um homem. Para que finalmente se encarem os factos como eles são e não apenas através da perspectiva redutora do próprio umbigo. Com verdades limpas e mentiras claras.

25.9.06

Maputo - Seduções I


Por muita carência que se transporte no corpo e na alma um homem nunca está devidamente municiado para uma cena de sedução quando visita certos locais. Por exemplo na oficina de automóveis entre oleos mal cheirosos e fatos macaco sebentos, jamais passaria pela cabeça de um mortal dar de olhos atrás do balcão das peças com um par de faróis grandes e brilhantes emoldurados por um rosto fabuloso de pele chocolate e lábios grossos a encimar um busto mais que meio descoberto de cortar respiração de tanta sensualidade. Mas acontece. E que fazer num momento desses senão tocar a reunir as tropas, respirar fundo e atamancar uma estratégia de ultima hora que possa conduzir aquela barco a praia segura.
Ultrapassado o factor surpresa que normalmente deixa um pobre macho meio desarmado, passa-se á ofensiva que já dizem os experts nas coisa do futebol, é a melhor defesa. E assume-se uma posição em campo que demonstre de forma clara á femea desafiante que já percebemos o alcance daquela investida e não estamos ali para ser provocados sem ripostar.
Claro que a aproximação se faz atravéz da complexa rede de códigos sinaléticos emitidos por olhares implicitamente questionadores de onde tens andado que nunca te tinha visto? ou ainda mais claro podes aguardar que já te apanho o numero do cell ou um redutoramente conclusivo vai ser na tua flat ou lá na alcatifa do T1?

Depois de um complicado jogo de passos por entre diferenciais, motores e caixas de velocidade espalhados pelo pavimento, tenta-se vencer o labirintico espaço que nos separa fisicamente do balcão e sem nunca desviar por mais que breves segundos os olhos do objectivo, encosta-se o tronco ao balcão e continua-se o jogo agora num já quase corpo a corpo.
Sem muito mais para dizer coloca-se um ar meio desesperado e atira-se com será que vai demorar muito a concluirem a reparação do meu chasso? Ao que ela atrevidamente replica com um explicito espero que apenas depois de receber o seu convite para jantar. Aqui já não existe forma de voltar atrás e uma mão répticiamente levada ao bolso da camisa deixa no balcão um cartão de visita que rápidamente é escondido num qualquer local da vestimenta que guarda aquela corpo de deusa.
Agora resta esperar pela chamada com a certeza absoluta de experiência feita, que o velho Nókia vai cantar nas próximas horas e que a balconista das peças vai de certeza cumprir todas as promessas feitas naqueles breves instantes em que apenas com os olhos ofereceu todos os imensos tesouros e mistérios que são o seu corpo e o espirito livre que é o grande legado genético que esta Africa, cada dia mais misteriosa e fascinante, deixou aos seus filhos.

21.9.06

História com moral

Lucília negra clara de Inhambane, de cima dos seus fogosos 30 aninhos usava saia curtinha, travada e apertadinha, tissagens longas e marrabentava as roliças ancas como onda do mar. Indiferente e altiva, passeva o bombaleante corpo entre as diversas salas da repartição segura do seguro valor daquelas curvas perfeitas, no fundo o unico bem material que possuía.
Jossias, ronga atrevido, vivido e experiente, travava os impulsos dentro das calças lançando olhares famintos nas ancas falantes de Lucília que, jurava ele, lhe chamavam de cada vez que ela se passeava frente á sua secretária. Sofrimento, chamava ele áquela visão diária, ali tão perto e ao mesmo tempo a cada dia mais inatingível.

Celeste negra escura de Mueda, redonda toda ela, carapinha rebelde, mais rouge que pele, mais baton que lábios, deixava transparecer sem sequer disfarçar o intenso desejo que Jossias lhe despertava quando lhe olhava implorante. Sentada frente áquele pedaço de pecado, despia-o várias vezes ao dia com os olhos, enquanto lhe imaginava o corpo de macho colado ao seu. Suspirava ao mesmo tempo que lhe procurava os olhos ou subia prepositadamente a saia deixando á mostra as anafadas coxas que ele parecia nem querer olhar.

Celeste suspirava e despia mentalmente Jossias que cegava parcialmente a cada investida enquanto Jossias sonhava com as ancas dançantes de Lucilia que lhas negava em cada avanço. Assim se escorriam no tempo os dias naquela sala de trabalho, numa atmosfera cada vêz mais tensa de mal disfarçados desejos reprimidos e ciúmes, testemunhados pelos olhares vigilantes de Lucas o chefe de repartição.

Jossias compensava de forma solitária e frequente aquele sofrimento escaldante na intimidade do arquivo morto, na mal conseguida tentativa de se aliviar de tanto volume e tão tentadoras visões. E foi aí que Celeste o encontrou uma tarde manejando o objecto fulcral dos seus calores e de tantos suores infrutíferos. E foi aí que depois de trancar a porta se ajoelhou e se aninhou entre as suas pernas como em súplica:
- É hoje Jossias...

Jossias negou a boca da negra Celeste e instintivamente repeliu-a, não porque não desesperá-se por um alivio momentaneo mas muito porque as ancas marrabentosas de Lucilia não lhe saiam de dentro como espinha cravada na garganta. Afogueado saíu apressado deixando atrás de si um par de joelhos colados ao sujo soalho e duas lágrimas a correrem na face de Celeste.

Lucas, o vigilante chefe de repartição ainda o viu passar descomposto tentando desajeitadamente fechar o zip, quase correndo em direção ao WC. Ali concluíria o alivio inacabado, moendo a raiva de imaginar as ancas roliças de Lucilia rebolando entre as mãos ásperas de Lucas enquanto a imagem das duas lágrimas de Celeste lhe escoriam ainda na alma frustrada…

Moral da história:

Mais vale uma Celeste gordinha de joelhos no arquivo morto, que uma Lucília gingona, nas horas extras sentada na secretária do chefe Lucas.

8.9.06

Afectos, ou aquela dor que vai moendo...


Desalento,
é abrir cem vezes por dia a caixa de email e, apesar de ela saber que aquele post no blogue é exclusivamente para ela, ainda não ter reagido nem sequer com um.... deixa-me em paz!!!

Afectos, ou a falta de...


Hoje,
talvez porque o dia acordou cinzento e triste, trocaria de bom grado esta rotineira monotonia pela macia almofada que é o teu peito... e ainda ousaria pedir-te que te mantivesses silenciosamente submissa para não têr de te justificar ausências injustificáveis.