8.6.06

Irmã branca de coração africano!

Por alguma razão de espermatezóides XX mais lentos que os XY, os meus pais nunca tiveram nenhuma filha mulher. Apenas três filhos homens, o que ainda hoje obriga a minha velha mãe a aturar e servir como criada quatro machos egoístas e machistas sempre que se lembram de acampar lá em casa e sentar á mesa ás voltas com cozido á maneira dela, queijo de ovelha com presunto e vinho tinto carrascão do velho. O que ela diz fazer com muito prazer, o que é um dos enigmas da minha vida pois não gostaria de pensar que a velha é mentirosa e não entendo o porquê de tal prazer. Mas adiante..
O motivo desta prosa prende-se com o facto de eu ter adoptado, não sei se é o termo correto, uma irmã. Reflexo da inaptidão dos espermatezóides do kota ou não sei bem porquê, aconteceu numa fase da vida necessitar de uma alma femenina para desabafar. Trocando por miúdos. Adoptámo-nos um ao outro pela internet e depois selámos a escritura de adopção e amizade num dia e noite inesquecíveis na velha cidade de Coimbra já lá vão uns anitos. E hoje somos irmãos e amo-a assim mesmo. Raramente falamos mas sei que está lá. Nem sempre das poucas vezes que tenho oportunidade a vou visitar mas ela não se amofina com isso. De vêz em quando mando-lhe uma mensagem e leio-lhe os poemas todos os dias. De quando em vêz ela lê-me nas prosas e deve lembrar-se de mim algumas vezes tambem. Tudo normal, parecemos irmãos de sangue.
Hoje lembrei-me dela. Não por causa de algum poema mais inspirado escrito por ela, mas porque completou mais um aniversário. E para parecermos ainda mais irmãos de verdade eu não vou sequer incomodá-la a telefonar-lhe e quero apenas reafirmar que a amarei sempre porque os irmãos normalmente não se escolhem e a esta mana eu escolhi. Sinto falta dela, gosto dela, ela é talentosa, tem manias estranhas e um blog chamado romadevidro.blogspot.com. Chamo-lhe a minha mana preta e ela chama-me mano mulato e pronto... parabens mana.

Hoje se te desse uma prenda em mão lia-te olhos nos olhos e em vóz alta com sotaque desta Africa que amamos, este poema do velho embondeiro Luandino de que ambos devemos ter uma costela vertical:

SONS

A guitarra
é som antepassado

Partiram-se as cordas
esticadas pela vida.

Chorei fado.

Que importa hoje
se o recuso:

o ngoma é o som adivinhado!

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