22.7.08

Vidas ocultas!


Um fim de noite destas perguntavas-me se alguem para ser feliz ao meu lado, tinha obrigatóriamente de ser masoquista, dado que de mim apenas recebes indiferença e desamor. Confrontaste-me em vóz alta com as minhas pretensas fraquezas e medos porque não tenho a coragem de te abandonar o que seria preferível a continuar a farsa que teimosamente sustento. Atiraste-me à cara com a alegada incapacidade de dar-te apenas que seja, uma sobra do afecto e dedicação, que desbarato com outros e outras que não me merecem nem me amam, muito antes pelo contrário. Solidária, aderis-te ao clube das ex-mulheres importantes da minha vida, pois a todas fiz passar tarde ou cedo, por tudo aquilo que estás a sofrer. Gritaste-me aos timpanos que nada na nossa relação faz sentido, senão o teu grande sentido de familia e muito amor por mim e confrontas-te aquilo que pareço perante o mundo e aquilo que na verdade sou. Qual guerreira farta da batalha, ergueste o braço e a mão cansada que segura a quase eterna corda da nossa relação, preste a rebentar no dia que quiseres ou não aguentares mais. Fingi não te ouvir na tentativa pouco conseguida de diminuir-te os argumentos. Saí de cena fechando-me na concha do silêncio oferecendo-te o palco para continuares a representação em monólogo onde dramática alternas-te as lágrimas soluçantes com as palavras inquisitórias. Escutei-te sem te ouvir, olhando o vazio e tentando levar os pensamentos para lugar nenhum, mas bem longe dali. Remando contra o vento tempestuoso da consciência que me pesa mas que tenho de carregar como um destino a que não posso nem quero fugir. Impotente e sem a minima vontade para mudar, reconheço que razões não te faltam. Muitas e de todo o senso, irrefutáveis quase todas, porque verdades. Sobram-te, apenas aquelas que não conheces nem nunca conhecerás. As sórdidas e inconfessáveis. A outra face. Clandestina aos olhos daqueles que como tú não veêm para alem dos olhos. Onde sentimentos tão simples como esse teu dito amor não cabem nem fazem sentido. Onde cabem apenas e tanto, todas as contradições que um homem pode carregar ao longo de uma vida tão cheia de tantas vidas experimentadas ao limite. E no fundo, são essas vidas da minha vida por ti ignoradas e por isso desconhecidas, as razões primeiras para termos chegado a este estádio. Onde apenas existe uma saída. Sem retorno e com sentido obrigatório para o fim.

2 comentários:

Sombra de Anja disse...

E de repente, o silêncio calou-se, caro Jácome.

Beijo

Eu sei que vou te amar disse...

O fim...o ultimo grito para a liberdade do ser, as vezes e necessario partir...o pano cai e ficamos ali a contemplar o outro espelho de nos e sentimos um alivio!
Beijo terno