Encruzilhado e expectante agacho-me pela milionésima ocasião, na esperança de uma resposta coerente. Consigo que se sente a meu lado. Suavemente peço-lhe que me escute. Solectro as palavras antes ensaiadas sem nunca alterar a vóz nem a olhar nos olhos. Enfatizo as razões e o sentimento. Evito referir qualquer possibilidade de cobrança ou pagamento de favôr. Existe uma coerência lógica na sequência dos argumentos (penso eu). Rebatível por certo, mas lógica e clara. Termino com um pedido de resposta mesmo que adiada. Sim ou não, olhando-a ostensivamente nos olhos. Mal debita as primeiras palavras revejo o mesmo filme de sempre. Nada do que levei horas a ensaiar e breves minutos a resumir, foi entendido ou muito provávelmente sequer ouvido. Absurda conversa de surdos. Invade-me a raiva que pede para perder a compustura e as estribeiras. Cerro os punhos e páro tambem de escutar. Contenho-me com esforço á custa de muitos batimentos cardiacos extra. Vou perder-me em mais horas de ensaios. Insistirei argumentando mesmo sabendo que para partir esta rocha acabarei por ter de usar dinamite. Aproveito um momento de distração da Princesa e saio para voltar o mais tarde possível. Não desistirei nunca.
2 comentários:
Caro Jácome,
São esses momentos de distracção que nos fazem ter conversas de mudos, gritos de surdos e lágrimas de cegos.
Encaramos nossa vida como fins anunciados e pronunciados, e dentre as diferentes faixas de rodagens e takes, e cenas contracenadas com outros personagens, vemos-nos as voltas no poste de luz tentando não nos perder-mos em horas infindáveis de ensaios malditos e coerentes.
Sortudos são os dotados de uma teimosia não desistente, sabem esses o sabor de uma vitória a todo custo e de uma derrota a toda velocidade.
Ensaia as falas....mas actua com Vida nesta peça invisível de actores desconexos.
Alonguei-me...perdoa.
Bjs
Como sempre ler-te e deixar-me navegar em palavras e sentir uma emocao em cada letra!
Beijo doce
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