Depois de mais um dia sem avanços naquilo que è verdadeiramente importante, com a cabeça completamente oca de pensar estratégias inuteis, tento adormecer com os costados colados à madeira do fundo gasto do velho sofá. A coletanea de poemas do genial panasca do Pessoa prolonga-me a insónia atravéz do mais intrigante e mórbido dos seus fantasmas:
Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa. Quero acabar entre rosas, porque as amei na infância.
Os crisântemos de depois, desfolhei-os a frio.
Falem pouco, devagar.
Que eu não oiça, sobretudo com o pensamento.
O que quis?
Tenho as mãos vazias,
Crispadas flebilmente sobre a colcha longínqua.
O que pensei? Tenho a boca seca, abstrata.
O que vivi? Era tão bom dormir!
Alvaro de Campos
Isso mesmo. Vou tentar dormir e não pensar muito nas palavras deste desenraizado. Amanhã fecho-o a ele aos irmãos e ao desnaturado do pai dentro da capa grossa do livro e não vou deixa-los sair de lá nem para respirarem. Prometo-me. Tenho tanto em que pensar e estes gajos a foderem-me a cabeça.
5 comentários:
Caro Jácome,
Tudo isto para perguntar: E Dormiste?
Beijos preguiçosos
Ilustre desconhecido,
Gosto deste contraste de post’s escritos com alma e completamente crus. As imagens, essas então escolhem a dedo mostrar a mingua daquilo que são os finais anunciados.
A leitura de A. C. também é própria para enterrar cadáveres que nos acompanham sem que nos apercebamos da sua real utilidade, se é que a têm.
Essas incontáveis estórias que nos habitam, vidas que levamos connosco engomam-nos de tal forma o raciocinar que se torna percebível a falta de sono e o respirar inexistente deambulando apenas pela luz que provavelmente sustenta o sentir intacteável, involuntário e soberano das estratégias de fuga que procuras. Ou serão estratégias de liberdade?
Assim, é o labirinto da vida. Cada um tem o que procura. O que merece. O que suporta.
No fim dos fins, percebemos sempre que Deus não é desleixado, apenas sem razão extenuada nos faz achar o tempo injusto e obsoleto, quase sem gloria em todas as saídas que encontramos. Numa delas batemos a porta e viramos as costas sem intenção de regressar. Acontece voltar. Acontece não voltar. Que se lixe, o prazo expirou e migrar é o apaluso final. Com lágrimas. Com silêncios. Com crónicas.
Pois... sei que esses ciclos tem fins anunciados. Faz um feitiço a razão e a memória e faz também do precípicio o começo onde o suspiro repousara.
Apenas, resta-te deixar acontecer ;o)
Bjs doces
YEAHHHHHHHHHHHHH TO FILIJI
Bjs..docinhos docinhos
O cansaço é mesmo uma merda.
Cadinho RoCo
Belas crónicas “amigo”!!!
A muito que aqui não comento, por andar naufragada por ai, por andar ardente (como habitual), por não se ter muito que falar perante o que escreves dentro dos nossos sentidos. Afectas-me sempre, sei que sabes. Sei lá porquê mas os teus post parecem sempre dirigidos a quem lê hehehe…tens de me ensinar esse truque de escrita. Sendo assim, mesmo sabendo que sabes que passo quase que catolicamente por aqui, apeteceu-me deixar um oi. Um beijo. Um sorriso (meio amuado, confesso…também sabes que arrefeço rápido, é o k me vale). Escreve com mais frequência pleaseeeeeeeeee…
Bjs meus
P.S. Poxa…axas-me mesmo capaz de “queimar a sopa” no Vasikate?!? E eu que sempre me meti a boa cozinheira… belo incentivo para uma iniciante snif snif snif…
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