26.10.09

Pontes


Trocaram de olhares de forma fugaz mas intensa e esclarecedora. Breves segundos. Na confusão da avenida, a compacta fila de carros não permitiu mais e um foi forçado a avançar. Subiu a temperatura e ficou a vontade de repetir a ousadia. Afinal os olhos não mentem e aquela troca podia significar que aquele fim de tarde chuvoso e cinzento se podia tornar ainda diferente. Um deles atrasou o mais que pode a marcha e o outro pressionou o carro da frente até que ficaram de novo lado a lado. E no meio da poluente confusão urbana de buzinadelas e latas com motores fumarentos, os olhos construíram uma ponte. E por essa ponte fizeram passar a certeza de que aquilo que os separava era nada.

Não sei dizer se foi o carro dela ou o dele que ficou estacionado uns metros mais á frente até à manhã seguinte. O que constatei é que as pontes tambem se podem construir nas tardes de chuva mesmo que durem apenas o momento em que partilhamos vontades sem amarras.

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