22.3.10

Fotogramas I - Ciumes


Ela garantiu-lhe que o seu conceito de vida a dois seria ter alguém com quem partilhar os dias e as noites sem o fantasma da infidelidade a roer-lhe as entranhas. Só aceitaria voltar a relacionar-se com alguém que fosse tão completamente dedicado a ela quanto ela seria a essa pessoa. E que esta condição não era negociável sob nenhum pretexto pois tratava-se de um princípio inabalável que solidificara ao longo dos anos, muito por causa dos vários insucessos amorosos que foi acumulando. Fracassos esses com um denominador comum. Os motivos sempre foram, alegadas traições comprovadas daqueles com quem tinha tentado partilhar a vida. Em alguns casos não tão provadas assim, mas a chama inapagável do ciúme que lhe roía as entranhas nos momentos em que os confrontara levara-a a tomar atitudes e a praticar actos desesperados e irreparáveis. Perdeu-se em divagações justificativas acerca da forma adulta como terminara com cada um e de quanto difícil era encontrar esse alguém tão especial. Reiterou a vontade de não desistir desse objectivo desde que cumprida a condição da posse absoluta.

A ele coube-lhe contrapor um historial das várias mulheres que conhecera ao longo da vida e com quem tinha tentado construir afinidades. Cada uma um erro maior que o anterior, pois todas elas o magoaram e com nenhuma mantinha actualmente a menor amizade. Uns casos, por absoluta futilidade da parceira dado apenas revelarem interesse na sua condição social privilegiada, outras ainda porque não se esforçarem o suficiente para entender a sua peculiar forma de vida e sem razão plausível ou justificada o fizeram engolir a suspeita do travo amargo da traição. Divagou longamente sobre aquilo que considerava serem as obrigações das partes numa relação e dos princípios que lhe eram intrínsecos. De leve abordou a forma desabrida como reagia em momentos de dúvida acerca da fidelidade ou do amor de quem com ele se relacionava e dos efeitos devastadores dessas furias no futuro da relação. Reiterou a firme intenção de continuar a busca por alguém a quem se dedicaria totalmente desde que essa dádiva fosse recíproca e onde a possibilidade de traição nem sequer fosse colocada.

No final pediram a mesma sobremesa, partilharam o gosto forte do café e dividiram a conta, frutos da afinidade de pontos de vista construída ao longo do jantar. Acabaram a noite na procura frenética do amor entre as quatro paredes de um quarto de hotel. Almas gémeas que se encontraram e terminaram a noite lutando contra a sua própria insanidade numa batalha que pela experiência sabiam perdida. Terminaram a noite tentando erguer uma barreira contra o desperdiçar da vida, obviamente sem o conseguirem. A incapacidade para aceitar os outros e a vida como ela é lhes muito roubara já o discernimento.

5 comentários:

Anónimo disse...

Da impressao que todas tem defeito e a unica virtude eh amar te...da impressao de que nenhuma te satisfaz a tempo inteiro.
Da impressao de que nao sabe o que queres.

Sao muitas impressoes....deve ser por isso q gosto das pinturas impressionistas.

Bj

Anónimo disse...

A unica impressão com que fico é uma ligeira crise de azia aí por esses lados.
Deixaste de saber lêr?

Sombra de Anja disse...

Deixei de saber ler outras línguas......concentrei-me noutras!

Anónimo disse...

doce,
com verdade te desejo que sejam macias e que te oferecam inesqueciveis.

bj

Anónimo disse...

...oferecam viagens inesqueciveis.
bj bj