2.11.05

A falta de amôr


Dizem que os poetas vivem mais intensamente.
E eu que não sou poeta, nem de rua,
Que sou frio, materialista e até céptico,
Que piso na terra fria sem sentir o seu aroma,
Que olho todos os dias o mar rebelde e não o vejo,
Que recebo no rosto o sol da vida e não o sinto,
Que ando ao luar sem sequer olhar a lua,
Vivo agora os dias de forma tão sentida e tão dorida
Que se fosse poeta, gritaria á terra, ao mar, ao sol e á lua,
Quanto vos agradeço por existirem, quanto vos devo neste momento.
Porque a ausência do teu amôr construiu em mim um sêr diferente,
Deu-me luz aos olhos e sentidos á vida
E de forma sublime, arrebatadora e eloquente,
Misturou teu rosto em tudo o que me rodeia,
Impôs-me a tua imagem necessária e urgente.
E assim descobri a intensidade da vida dos poetas,
A força imperiosa e infinita, da reconquista de um amor,
E com ela, a razão porque ainda vale a pena a vida.