2.11.05

A noite e a cidade


Embrenho-me na noite morna
Por entre as ruas esburacadas da cidade.
Procuro um não sei de quê ou porquê.
Quando ando ás cegas deixo-me guiar

Pelo formato alongado das sombras

Pela contramão dos sons de passos sem dono

Pelos acordes de portas envelhecidas

Por instintos naturais porque nascidos ali no momento

Filhos de uma decisão que definitivamente não controlo

Mas que me leva.
Na jornada ofereço-me uma viagem da verdade
Apenas possível de sentir na noite
Dos corpos desvalidos sem abrigo
Dos rostos assustados e sedentos
Da ansiedade feita carne quase morta
Da oferta feita dádiva de amor pago e urgente
Cega, irreal, desamada.
Na vertigem desta lansidão sem rumo
Na procura do nada e de tudo
Encontro-me comigo na noite da cidade.

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