“A autoridade não se garante a disparar. Se assim fosse os regimes impostos pelas armas seriam os melhores”
A sensação de alívio criada pela forma como se salvaram os reféns do assalto à dependência bancária em Lisboa, com a morte de um dos sequestradores e ferimentos imobilizadores no outro, leva a um puro engano. De facto, não se ganhou em segurança, nem se impôs a lei, nem se tratava de fazer justiça. Agiu-se apenas com a eficácia conseguida e dentro da legalidade, numa situação de medo e perigo para vidas inocentes.
O que aconteceu à porta da agência bancária foi um dano colateral. Salvaram-se os reféns e sobreviveu um sequestrador para responder pelo crime. E o epílogo é mais motivo de inquietação do que de tranquilidade. Uns tiros certeiros não acrescentam nada à segurança das pessoas e bens. A autoridade não se garante a disparar. Se assim fosse, os regimes impostos pela força das armas seriam os melhores. E ninguém com sentido de humanidade o admite e a História mostra que a fogueira, a guilhotina ou o pelotão de fuzilamento só prejudicam o avanço das sociedades na conquista de melhores condições de vida.
Sabe-se que hoje o medo domina. Já ninguém vive tranquilo com a porta de casa sempre aberta, como acontecia há 50 anos em muitas aldeias e vilas, como eu próprio vi na Beira Baixa. O medo generalizou-se. E a culpa, convém afirmá-lo, não é das notícias dos jornais, como alguns gostam de acusar. É da própria realidade. Há mais violência, ninguém sente grande segurança na autoridade nem confia inteiramente na Justiça. Os polícias surgem demasiadas vezes no lado do crime e a corrupção descredibilizou os juízes.
Um artigo do ‘The Sunday Times’ do primeiro domingo deste mês discutia o melhor caminho para a Justiça. Contava o caso de um britânico que ao chegar à casa de férias, em França, encarou com vandalização e roubo. Mostrou-se chocado junto do ‘maire’ da comuna – equivalente ao nosso presidente de junta – e ficou admirado por no dia seguinte lhe aparecer um jovem a substituir os vidros partidos e a fazer outras reparações. O jornalista, que também refere um libelo do rabi Sir Jonathan Sacks contra a sociedade moderna, a apontar a ausência da religião como razão de grandes problemas sociais da actualidade, conclui que a reacção da autoridade local francesa só foi possível pela descentralização do poder político existente naquele país e considera-a como o melhor caminho para uma melhor Justiça.
A reflexão é pertinente e mais profícua que a exaltação do alívio sentido com os tiros nos sequestradores do assalto à agência bancária. É fundamental não nos deixarmos trair pelo medo. Porque o medo só gera mais medo. Nunca deu segurança, justiça e paz.
João Vaz, Jornalista
A sensação de alívio criada pela forma como se salvaram os reféns do assalto à dependência bancária em Lisboa, com a morte de um dos sequestradores e ferimentos imobilizadores no outro, leva a um puro engano. De facto, não se ganhou em segurança, nem se impôs a lei, nem se tratava de fazer justiça. Agiu-se apenas com a eficácia conseguida e dentro da legalidade, numa situação de medo e perigo para vidas inocentes.
O que aconteceu à porta da agência bancária foi um dano colateral. Salvaram-se os reféns e sobreviveu um sequestrador para responder pelo crime. E o epílogo é mais motivo de inquietação do que de tranquilidade. Uns tiros certeiros não acrescentam nada à segurança das pessoas e bens. A autoridade não se garante a disparar. Se assim fosse, os regimes impostos pela força das armas seriam os melhores. E ninguém com sentido de humanidade o admite e a História mostra que a fogueira, a guilhotina ou o pelotão de fuzilamento só prejudicam o avanço das sociedades na conquista de melhores condições de vida.
Sabe-se que hoje o medo domina. Já ninguém vive tranquilo com a porta de casa sempre aberta, como acontecia há 50 anos em muitas aldeias e vilas, como eu próprio vi na Beira Baixa. O medo generalizou-se. E a culpa, convém afirmá-lo, não é das notícias dos jornais, como alguns gostam de acusar. É da própria realidade. Há mais violência, ninguém sente grande segurança na autoridade nem confia inteiramente na Justiça. Os polícias surgem demasiadas vezes no lado do crime e a corrupção descredibilizou os juízes.
Um artigo do ‘The Sunday Times’ do primeiro domingo deste mês discutia o melhor caminho para a Justiça. Contava o caso de um britânico que ao chegar à casa de férias, em França, encarou com vandalização e roubo. Mostrou-se chocado junto do ‘maire’ da comuna – equivalente ao nosso presidente de junta – e ficou admirado por no dia seguinte lhe aparecer um jovem a substituir os vidros partidos e a fazer outras reparações. O jornalista, que também refere um libelo do rabi Sir Jonathan Sacks contra a sociedade moderna, a apontar a ausência da religião como razão de grandes problemas sociais da actualidade, conclui que a reacção da autoridade local francesa só foi possível pela descentralização do poder político existente naquele país e considera-a como o melhor caminho para uma melhor Justiça.
A reflexão é pertinente e mais profícua que a exaltação do alívio sentido com os tiros nos sequestradores do assalto à agência bancária. É fundamental não nos deixarmos trair pelo medo. Porque o medo só gera mais medo. Nunca deu segurança, justiça e paz.
João Vaz, Jornalista
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