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Aquele homem de meia idade com quem me cruzo diariamente desde á dois meses pela manhã, tem algo de estranho e ao mesmo tempo misterioso, que me confunde profundamente. Não consigo defenir se acorda triste ou apenas amargurado ou se nada disso que eu imagino é verdade. Não parece feliz mas tambem não posso afirmar com certeza que seja infeliz. Tem uma testa altiva que lhe dá serenidade mas os olhos traem-no. A inquietude no olhar e nas mãos é quase permanente. Dirige-se à mesa, senta-se, bebe o café curto com adoçante e volta a sair parecendo ignorar completamente o que o rodeia. Normalmente observo-lhe as mão inquietas e os olhos nervosos, tentando entender-lhe a alma mas acabo por não chegar a nenhuma conclusão quando fixo o olhar por alguns segundos no perfil da face. Parece uma mascara de pedra. Granitica. Nada do que se passe naquele micro-cosmos citadino com odores fortes a torradas queimadas com manteiga, sumo de laranja e café forte, lhe faz mexer um musculo facial que seja. Sinceramente não consigo formular uma opinião acerca dos mistérios que aquele homem transporta mas calculo que sejam muitos e pesados. Acho que a partir de amanhã vou-me dedicar a observar a mulher que entra sempre dois passos atrás, se senta na cadeira ao lado, e terminado o café se levanta uns segundos depois dele, seguindo-o até á rua. Parece ser sua filha mas pode ser tambem a esposa ou namorada ou mesmo amante. Pode até ser uma colega de trabalho ou simplesmente uma secretária dedicada pois é ela que paga o café todas as manhãs. È muito jovem ela e ainda mais bonita. Usa um perfume de jasmim que combina mal com a sensualidade urbana que transpira em cada curva do corpo. Tem lábios atrevidos e peito proporcionado. Usa saias curtas e justas e por vezes esquece de fechar os ultimos botões do decote. Tem olhos grandes e escuros ela, que como focos de luz percorrem toda a sala procurando outros olhos onde se fixarem. Tenho a certeza que muitas vezes procura exatamente os meus para aquele exercicio estranho mas normalmente evito olhá-la porque me desconcerta e incomoda mas amanhã vou resistir aquele fogo que queima e tentar conseguir atravéz deles, desvendar os mistérios que aquele homem oculta e que tanto me deixam intrigado.
4 comentários:
O que a solidão não faz!
É acompanhada por um café curto, um sumo de laranja e uma troca de olhares fervorosos.
A fuga de si mesmo para um outrem é uma luta constante do ser humano enigmaticamente inteligente.
Por mais que uma pétala de vento açoite tua face, o conjunto delas se enamorará pela tua mente.
Texto belíssimo.
Beijo docemente angelical
Anja,
nem sempre a solidão é uma imposição externa. Tambem é uma opção consciente e assumida.
O homem do café que aparenta tantas contradições nunca será um homem vazio, pois elas abrem-lhe um leque interminável de opções. Provávelmente conhece-as todas e as que não conhece o tempo se encarregará de lhe mostar.
Resta-lhe o momento da decisão.
Que tanto poderá ser ficar como partir. Uma e outra poderão ser sempre entendidas como fugas dependendo do ponto de vista de quem as analisa.
um beijo
Caro Jácome,
Claramente que as contradições (para um homem inteligente) podem tornar-se num leque infindável de escolhas e decisões.
Se o homem do café é feliz? Não sei...não o conheço...nem a alma dele.
Se a mulher que paga o café é infeliz? Não sei...nunca a vi sorrir.
Mas sei que, decisões não são fugas e nem desculpas mal paridas, mas sim parte do que somos, do que nos tornamos.
Reitero...o texto é belíssimo.
Bjs angelicais
Introduzes um elemento semantico novo na questão. Desculpas. Mal paridas.
Elevamos assim a retórica para uns niveis acima do "ground level" meramente observador e entramos no plano inquisitório dos julgamentos de personalidade.
Não sei porquê mas sinto-me... réu!!!
um beijo
PS:
Adoro debater contigo... quase tanto como apanhar a tua boleia nos passeios celestiais!
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