Afinal a tal maldição de Africa, que ao longo dos séculos tem levado que tantos homens e mulheres se agarrem como raízes a esta terra, existe ou é um mito?.
7.12.09
FIM
3.12.09
Amargos
“As pessoas são frágeis. Falham. Desiludem. Escondem-se. Mas as pessoas também são tudo aquilo que temos de melhor”
Ando na fase do contra, amargo por culpa própria é certo, mas não só. E dei comigo a olhar o rosto da senhora na procura do citado lado bom que as pessoas têm. Não. Por muito interessante que seja a foto e louvável a intenção de quem a colocou ali, ainda não foi desta que me convenceram que algo de verdadeiramente bom possa vir de pessoas, espécie humana, mulheres e homens. Talvez de uma criança. Acredito que sim. Porque ainda não é um homem ou mulher dito responsável. Ou de um gato. Se não tiver um olho de cada côr e lhe derem a ração diária a tempo e horas. Ou mesmo de um selvagem leão faminto lá das terras de cabo Delgado como o da história escrita pelo Sérgio Veiga caçador de mil aventuras, que depois de derrubar a mãe que trazia uma criança de leite na neneca, perante o choro desabrido do petiz voltou costas ao jantar e desapareceu no meio do mato.
Bem, isto sou eu a pensar alto. Eu, que em cada dia que passa acredita menos que as pessoas possam ser também “tudo aquilo que temos de melhor”.
23.11.09
Recordando Heliodoro!
não há a probabilidade de me render.
E se o horizonte oscila, em seu remexer,
me cago no tédio, para todos e para ti!
Heliodoro Baptista, poeta moçambicano
6.11.09
Carta aberta aos Bancos Moçambicanos
(Recebido por email e adaptado)
2.11.09
26.10.09
Pontes
Não sei dizer se foi o carro dela ou o dele que ficou estacionado uns metros mais á frente até à manhã seguinte. O que constatei é que as pontes tambem se podem construir nas tardes de chuva mesmo que durem apenas o momento em que partilhamos vontades sem amarras.
15.10.09
Armaduras
Deste que te conheci que tenho vontade de te dizer algo que refuto de muito importante. Mas como não és uma pessoa fácil vou simplificando a vida na certeza de que o tempo corre contra mim e a cada dia se dilui mais a importância das coisas importantes.
7.10.09
Sexta-feira à noite
Sexta-feira à noite
os homens acariciam o clitóris das esposas
com dedos molhados de saliva.
O mesmo gesto com que todos os dias
contam dinheiro papéis documentos
e folheiam nas revistas
a vida dos seus ídolos.
Sexta-feira à noite
os homens penetram suas esposas
com tédio e pênis.
O mesmo tédio com que todos os dias
enfiam o carro na garagem
o dedo no nariz
e metem a mão no bolso
para coçar o saco.
Sexta-feira à noite
os homens ressonam de borco
enquanto as mulheres no escuro
encaram seu destino
e sonham com o príncipe encantado.
Marina Colasanti
24.9.09
Outubros
A metralhadora e a espada. O medo e o frio.
A revolta abafada. A cegueira e o vazio.
A voz amordaçada. O asco e o fastio.
A alma dormente. A garganta apertada.
A terra que seca o vazio das mentes.
As palavras presas. Os planos adiados.
O grunhido dos porcos. O rebanho cego.
Os gritos calados. Os filhos deslocados.
A lucidêz de reconhecer a verdade,
O cheiro nauseabundo da mentira.
A revolta anunciada e eternamente adiada.
E os homens e as mulheres amedrontados.
E aqueles ignorantes que tanto se lhes dá
Que Pátria vá parir filhos ou enteados.
5.6.09
Dialogos Prováveis (parte III)
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Ela sonhava com um mundo perfeito, onde o sol brilhava para todos, a felicidade era plena, onde o medo e a incerteza não pairavam e as lagrimas eram sempre de alegria e emoção. Entretanto, aos poucos e delicadamente, Carlos se foi soltando, e lentamente percorreu com seus braços o quadris de sua companheira. Nessa viagem carregada de erotismo, já com as mãos na nuca, delicadamente beijou a face de Sofia que em jeito de Bela Adormecida acordou do instante de divagação.
Sofia abriu os olhos, ardente de desejo, esboçou um sorriso encabulado para disfarçar, enquanto pensava consigo mesma: “Vou? P`ra onde? O que sera que ele quis dizer? Sera que...?” Enquanto isso, Carlos levanta a sua mão e diz mais uma vez: “Vem Sofia, vem comigo!” Sofia toma a decisão em seu pensamento: “ao que a noite me levar, entrego-me por completo, confio na força que me move com esperança” logo dá a sua mão a Carlos e....... ........
3.6.09
Dialogos Prováveis (parte II)
Não sei onde esta história vai terminar porque a AVID aceitou o meu desafio para lhe dar continuidade e vindo dela o melhor seria começar a chamar-lhe "Dialogos Improváveis". mas, dado que ainda existe um outro desafio não respondido, a ALGUEM que diz não ter talento para nos mostrar mas todos sabemos que não é verdade, espero poder publicar a continuação sem ter de alterar o título.
PS: Linda, o texto tá óptimo...
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Sofia sorriu cinicamente perante tal revelação e num impulso levantou-se. O gesto custou-lhe um ligeiro desiquilibrio em cima dos saltos Manolo Blahnik de quinhentos dolares bem empregues, que nesse exacto instante lhe magoavam tanto os pés que ela sentiu o sangue escorrer pela alma. Com a mesma delicadeza misturada a uma timidez característica de quem disse algo que não devia, Carlos a amparou como se preserva uma preciosidade prestes a quebrar ao mínimo som do vento.
Sofia desprendeu-se dos braços que ainda a seguravam dando-lhe equilíbrio. Afastou-se e de pé, encostou-se na mesa para deixar que a brisa lhe levasse embora a vergonha que sentia por ter sido tão ousada em demasia, calando a boca enquanto perdia o olhar no horizonte negro.
Carlos observou-a mais atentamente. Sofia era uma mulher alta, de traços e gestos elegantes. Concerteza deveria pertencer a alta sociedade maputense pois pelo muito que ele conhecia de roupas e marcas ela se vestia com o mais bom gosto encontrado na praça. Agora, parecia fria e distante, mas ele poderia jurar que aquela mulher saberia perfeitamente levar um homem a loucura caso se entregasse de verdade. Qualquer homem, menos ele, claro. Afinal não se sentia atraído por mulheres e logo agora que nada mais tinha a esconder estava ali perdido a tentar entender aquela estranha que de forma quase ingénua se tinha atirado a ele. Sorriu em silencio e aproximou-se mais do seu corpo e num sorriso encantador ofereceu-lhe um cigarro que ela aceitou.
No instante em que Sofia aceitou o cigarro, um toque inesperado quase se fez choque entre as mãos de Carlos e Sofia, o que fez que se entre olhassem e dividissem incógnitas e segredos mesmo sem palavras. Conversaram banalidades enquanto fumavam o primeiro cigarro e quase que instintivamente ela começou a balançar-se ao som da old music que vinha de dentro da discoteca, ele acompanhou-a e encostou-se as ancas bem proporcionadas de Sofia. Sofia nada falou. Rebolava devagar enquanto sentia a respiração quente e muda de Carlos aquecer-lhe os ombros quase nus. Carlos sentia-se estranho perante aquela mulata misteriosa e ausente, observava Sofia quase entrar em transe no ritmo e, num impulso inexplicavel virou-lhe o rosto contra o seu.
Sofia não conseguiu falar porque o olhar de Carlos calou-a. Não foi um olhar habitual. Foi um olhar estranhamente diferente e caloroso que nada tinha a ver com sedução.
-Vem comigo Sofia - Disse Carlos como se da sua boca renascesse o poema de uma morte por anunciar.
26.5.09
Diálogos Prováveis (parte I)
Depois do jantar num dos restaurantes da moda e das habituais discussões acerca do local onde terminar a noite, decidiram-se pela discoteca mais famosa da cidade. O ambiente era demasiado jovem para ela e a música não lhe agradou de inicio mas acabou por ignorar os pormenores e cumprir aquilo que tinha planeado. Divertir-se e esquecer. Dançou durante duas horas seguidas, riu bastante e a meio da noite descobriu um olhar masculino e provocador que a perseguia pela pista de dança. Estava cumprida parte da noite e era chegada a altura de passar á ultima fase.
Pelos sinais que se recordava e que eram usados universalmente pela fauna urbana da noite, convidou-o com o olhar a aproximar-se dela. Durante alguns segundos fixou-lhe os olhos negros e rebeldes usando um olhar insinuante e sorrisso fingidamente candido. Ele, respondeu com um sorriso cumplice mas permaneceu de pé, encostado ao balcão de forma provocadoramente desinteressada. Ela ficou embaraçada e por alguns instantes desviou o olhar. No meio daquela turba onde predominavam jovens femeas predadoras, aquele era sem dúvida um dos troféus mais apetecidos mas sentia-se capaz de o levar para casa.
A aparente timidez dele obrigou-a a mudar de estratégia. Disfarçadamente desceu o decote da blusa e encheu o peito. Olhou-o desafiadoramente de frente e levantou-se. Agarrou o copo e atravessou a sala repleta de gente frenética que abanava os corpos ao som da música e sem nunca deixar de o olhar nos olhos, aproximou-se. Visto de perto era ainda mais interessante. Jeans de marca e camisa preta. Pele morena clara, olhos escuros e lábios sensualmente grossos. O cabelo castanho claro ondulado e prepositadamente despenteado, dava-lhe um ar de menino rebelde apesar de evidenciar que já passara dos trinta.
- Boa noite. Aqui está um barulho infernal . Trocas por momentos o conforto do balcão e acompanhas-me ao jardim para podermos conversar um pouco enquanto acabamos as nossas bebidas?
- Porque não? – respondeu ele.
Ela pegou-lhe na mão e arrastou-o atrás de si enquanto abria caminho. Transpôs a porta de acesso ao jardim, ladeou a piscina e escolheu uma mesa no fundo meio escondida entre palmeiras, onde o som da pista de dança chegava com pouca intensidade e permitia dialogar.
- O meu nome é Sofia. Sou divorciada à poucos meses e não saio de casa para locais como este á cerca de dois anos. Devo ter perdido o ritmo pois tanta gente junta confunde-me. Tú és um homem demasiado bonito para estares neste local sózinho. Que se passa?
- Obrigado pelo elogio. Tambem és muito bonita e sexy. Chamo-me Carlos. Tenho uma filha de 3 anos e vivo só. Fui casado mas descobri outros caminhos e tambem me divorciei.
- Outros caminhos? Que significa isso?
- Provávelmente vou-te desiludir mas... descobri que afinal o que gosto verdadeiramente é de homens. Sou gay, portanto...
21.5.09
Opções
Dúvidas deste género à uns poucos anos atrás nem se colocavam. Era caminho directo para a fogueira seguido de uns quantos dramas de alcofa inevitáveis e um afastamento natural e irreversível. De tantas vezes ver o filme até já os nomes dos duplos conheço.
Nesta altura da vida, ou o barómetro que rege as opções anda avariado ou fiquei adulto antes de tempo.
20.5.09
As mulheres são o que são!
12.5.09
Marcas de Guerra
20.2.09
Proximidades
19.2.09
Blogosfera como serviço público
20.1.09
A little less conversation a little more action (short fiction story of a prelude to a New York kiss)
Ela aproximou-se mais. Tinha o cabelo ruivo, os olhos azuis, dedos com manchas de tinta. Ele tirou mais pedras de gelo do balde em cima da mesa. Disse: 'So you're an artist?' Ela tirou-lhe o copo da mão, provou, serviu mais rum: 'Boys need to be boys'.
Ele bebeu. O fervor do excesso de álcool espalhou-se nas paredes da boca e por todo o sistema nervoso. Olhou para o vestido dela, os ombros sem tecido, uma veia azul no pescoço quando ela se ria. E ria-se tanto. Ela perguntou: 'Nina Simone or Billie Holyday?'
Ele aproximou-se, as ancas de ambos a menos de um dedo de distância, uma das mãos segurando o copo, a outra a pousar no vestido, um pouco abaixo das costelas, até que o polegar deslizou, apertando-lhe o ponto onde se estreia a virilha. Por cima do vestido, ele podia sentir o fino elástico que lhe rodeava a cintura. Ela disse-lhe, boca ao lado da boca: 'It's like you're undressing me already.'
Cruzaram a festa, ela parou para conseguir um copo de água, gelo, limão. Ele agarrou um cubo de melancia que se transformou em sumo dentro da boca. Havia fumo, e fila para a casa de banho, e pessoas que tinham chegado da praia. Duas irmãs de bikini bebiam margueritas. Um ilustrador sóbrio falava com um diplomata ganzado. No corredor, onde a corrente de ar apagara as velas no chão, alguém mordia o pescoço de alguém.
Subiram para o terraço do prédio: um sofá, antenas de televisão, as pontes sonoras e iluminadas sobre o East River.
Ela inclinou-se no parapeito do terraço, virou-lhe as costas, disse: 'I think I've never made out with anyone in Brooklyn.' E bebeu a água, limpou a língua, estilhaçou uma pedra de gelo dentro da boca, produziu saliva com sabor a limão.
Ele disse-lhe: 'Water melon tongue', e a sua mão pressionou-lhe a curva onde as costas se despistam, puxou-a para si, a outra mão segurou-lhe a cara, o dedos entraram no cabelo, agarrou-a com mais força, e ela afastou as pernas, roçou a pele das coxas nas calças de ganga, o centro do seu corpo cedeu, um ombro inclinou-se, os lábios cresceram, a sua boca podia ter dito: 'Do something to me'.
Ele virou-a de costas e apanhou-lhe o cabelo na nuca com uma das mãos: firme, sem espaço de manobra. Com a outra mão desceu-lhe uma alça do vestido, usou um dedo para contornar a curva do ombro, descer pelo peito, sobrevoar o mamilo. Mordeu-lhe o pescoço, os músculos da nuca, deixou a marca dos dentes.
Ela disse: 'Do it already', e rodou sobre si mesma, a alça a meio do antebraço, a boca apontada, a urgência de ficar sem fôlego.
E depois beijaram-se.
19.1.09
Tarde, quase sempre....
Aprisiono a vóz mas não o calor que me amarra ás memórias daquilo que nunca tive e provávelmente nunca terei. Desculpo-me na tua incapacidade para me perceber teu prisioneiro sem que seja necessário dizer-to na cara. Não me atrevo sequer pensar que a distancia de ti a que me obrigas, é apenas e só, a tua forma de me sentir. E na minha incapacidade para te demonstrar que apesar de assim estarmos socialmente livres da má lingua costumeira, o nosso unico lugar compensador era socializarmo-nos um no corpo do outro.
O fumo do cigarro á muito desapareceu engolido pela pouca pela luz que passa atravéz do cortinado. Fica o teu perfume a pairar na sala vazia onde vagueia intruso, o teu fantasma. E a absoluta certeza que comecei a adiar-me no dia em que te conheci.