19.12.08

Os meus votos


Por norma posiciono-me como desalinhado com festas natalicias e de final de ano e completamente contra o consumismo irracional que domina esta época. Porque vivo num País e numa sociedade onde se tropeça a cada instante na miséria fisica e moral mais profunda, confunde-me a insensibilidade instalada e sobretudo a gritante desigualdade entre os afortunados filhos e os milhões de deserdados. Sobretudo porque sei que ainda á três décadas atrás todos eram muito mais iguais nas tristezas e nas alegrias.


Muito por este meu desencantamento em relação ao período que vivemos deve-se á hipocrisia instalada nas relações inter-pessoais. Por exemplo, não consigo ficar indiferente quando recebo aqueles postais ou emails de boas festas enviados a "grosso" e provenientes na maioria das vezes de pessoas que ao longo do ano raramente nos dirigiram palavra e que nesta altura para alivio da consciência se dão ao trabalho de desejar festas felizes e quejandos. Claro que não os apago ou rasgo sem lêr. Mas, salvo raras excepções, não me provocam nada que se pareça com emoções saudáveis.


Por essa razão venho aqui postar, para desejar aqueles que fazem o favôr de visitar esta página de quando em vêz, que sejam felizes. Sempre. E que partilhem essa felicidade e a exercem com paixão a cada dia do ano nunca a separando da prática da solidariedade e da tolerância para com aqueles a quem amam e para com todos aqueles que sofrem no dia a dia, o infortunio de serem os filhos enteados e bastardos deste mundo.

10.12.08

Opções


... Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se
-Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E quando haja rochedos e erva...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...
Fernando Pessoa

29.10.08

Porquê?


A Princesa do alto dos seus quatro quase cinco anos com pressa de serem muitos mais, saca do morteiro da curiosidade e dispara-me na cara sem aviso prévio, o centésimo porquê? embaraçante da semana:


-" papy! estou preocupada. Tu achas normal porquê tú nunca me deste uma camisinha e as pessoas que não usam camisinha apanham doenças e podem morrer! Porquê tú nunca ficas doente nem morres? porque tu usas camisinha e eu não uso e se eu ficar doente porque não uso, não tens pena de mim? Porquê papy? "


Engasgado garanto a mim mesmo que vou deitar o televisor pela janela do 3º andar.


9.10.08

Crónica de um fim anunciado III


Depois de mais um dia sem avanços naquilo que è verdadeiramente importante, com a cabeça completamente oca de pensar estratégias inuteis, tento adormecer com os costados colados à madeira do fundo gasto do velho sofá. A coletanea de poemas do genial panasca do Pessoa prolonga-me a insónia atravéz do mais intrigante e mórbido dos seus fantasmas:
Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.
Quero acabar entre rosas, porque as amei na infância.
Os crisântemos de depois, desfolhei-os a frio.
Falem pouco, devagar.
Que eu não oiça, sobretudo com o pensamento.
O que quis?
Tenho as mãos vazias,
Crispadas flebilmente sobre a colcha longínqua.
O que pensei? Tenho a boca seca, abstrata.
O que vivi? Era tão bom dormir!
Alvaro de Campos
Isso mesmo. Vou tentar dormir e não pensar muito nas palavras deste desenraizado. Amanhã fecho-o a ele aos irmãos e ao desnaturado do pai dentro da capa grossa do livro e não vou deixa-los sair de lá nem para respirarem. Prometo-me. Tenho tanto em que pensar e estes gajos a foderem-me a cabeça.

8.10.08

Crónica de um fim anunciado II


Encruzilhado e expectante agacho-me pela milionésima ocasião, na esperança de uma resposta coerente. Consigo que se sente a meu lado. Suavemente peço-lhe que me escute. Solectro as palavras antes ensaiadas sem nunca alterar a vóz nem a olhar nos olhos. Enfatizo as razões e o sentimento. Evito referir qualquer possibilidade de cobrança ou pagamento de favôr. Existe uma coerência lógica na sequência dos argumentos (penso eu). Rebatível por certo, mas lógica e clara. Termino com um pedido de resposta mesmo que adiada. Sim ou não, olhando-a ostensivamente nos olhos. Mal debita as primeiras palavras revejo o mesmo filme de sempre. Nada do que levei horas a ensaiar e breves minutos a resumir, foi entendido ou muito provávelmente sequer ouvido. Absurda conversa de surdos. Invade-me a raiva que pede para perder a compustura e as estribeiras. Cerro os punhos e páro tambem de escutar. Contenho-me com esforço á custa de muitos batimentos cardiacos extra. Vou perder-me em mais horas de ensaios. Insistirei argumentando mesmo sabendo que para partir esta rocha acabarei por ter de usar dinamite. Aproveito um momento de distração da Princesa e saio para voltar o mais tarde possível. Não desistirei nunca.



7.10.08

Crónica de um fim anunciado - I


“A música da dor é tão repetitiva que, ao fim de algum tempo, todos os seres concretos que nos torturaram se misturam até formar um pequeno céu de desespero que nos envolve como uma redoma.”
Inês Pedrosa - "Fazes-me Falta"


É dentro dessa redoma feita cárcere que me anuncio. O elemento desespero fica cada dia mais fundo, pesado e denso. Sinto-me empurrado para a porta libertadora. Ainda não respiro mas já vejo a luz.

19.9.08

Jorge de Sena






CARTA A MEUS FILHOS


Sobre os fuzilamentos de Goya

Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso. É possível, porque tudo é possível, que ele seja aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo, onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém de nada haver que não seja simples e natural. Um mundo em que tudo seja permitido, conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer, o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós. E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto o que vos interesse para viver. Tudo é possível, ainda quando lutemos, como devemos lutar, por quanto nos pareça a liberdade e a justiça, ou mais que qualquer delas uma fiel dedicação à honra de estar vivo.

Um dia sabereis que mais que a humanidade não tem conta o número dos que pensaram assim, amaram o seu semelhante no que ele tinha de único, de insólito, de livre, de diferente, e foram sacrificados, torturados, espancados, e entregues hipocritamente â secular justiça, que os liquidasse «com suma piedade e sem efusão de sangue.» Por serem fiéis a um deus, a um pensamento, a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas à fome irrespondível que lhes roía as entranhas, foram estripados, esfolados, queimados, gaseados, e os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido, ou suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória. Às vezes, por serem de uma raça, outras por serem de urna classe, expiaram todos os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência de haver cometido. Mas também aconteceu e acontece que não foram mortos. Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer, aniquilando mansamente, delicadamente, por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de Deus.

Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror, foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha há mais de um século e que por violenta e injusta ofendeu o coração de um pintor chamado Goya, que tinha um coração muito grande, cheio de fúria e de amor. Mas isto nada é, meus filhos. Apenas um episódio, um episódio breve, nesta cadela de que sois um elo (ou não sereis) de ferro e de suor e sangue e algum sémen a caminho do mundo que vos sonho. Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém vale mais que uma vida ou a alegria de té-la. É isto o que mais importa - essa alegria.

Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto não é senão essa alegria que vem de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez alguém está menos vivo ou sofre ou morre para que um só de vós resista um pouco mais à morte que é de todos e virá. Que tudo isto sabereis serenamente, sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição, e sobretudo sem desapego ou indiferença, ardentemente espero. Tanto sangue, tanta dor, tanta angústia, um dia - mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga - não hão-de ser em vão.

Confesso que multas vezes, pensando no horror de tantos séculos de opressão e crueldade, hesito por momentos e uma amargura me submerge inconsolável. Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam, quem ressuscita esses milhões, quem restitui não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?

Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes aquele instante que não viveram, aquele objecto que não fruíram, aquele gesto de amor, que fariam «amanhã». E. por isso, o mesmo mundo que criemos nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa que não é nossa, que nos é cedida para a guardarmos respeitosamente em memória do sangue que nos corre nas veias, da nossa carne que foi outra, do amor que outros não amaram porque lho roubaram.

20.8.08

Caminho para lá!!


A partir de uma frase escrita pela Naela . Que de solitária e louca tem q.b.. Um beijo menina!


"Assim me vou tornando louco e solitário no justo equilibrio entre os dois. E encontro tanto liberdade como segurança na minha loucura. A liberdade que me dá a solidão assumida como opção e a segurança de não ser forçado a fazer aquilo que todos acham o mais normal ou a dar complexas justificações."
Não, não me interessam as vossas opiniões!

16.8.08





"Mas sei que uma dor assim pungente não há-de ser inutilmente..."

14.8.08

A traição do medo!


“A autoridade não se garante a disparar. Se assim fosse os regimes impostos pelas armas seriam os melhores”
A sensação de alívio criada pela forma como se salvaram os reféns do assalto à dependência bancária em Lisboa, com a morte de um dos sequestradores e ferimentos imobilizadores no outro, leva a um puro engano. De facto, não se ganhou em segurança, nem se impôs a lei, nem se tratava de fazer justiça. Agiu-se apenas com a eficácia conseguida e dentro da legalidade, numa situação de medo e perigo para vidas inocentes.
O que aconteceu à porta da agência bancária foi um dano colateral. Salvaram-se os reféns e sobreviveu um sequestrador para responder pelo crime. E o epílogo é mais motivo de inquietação do que de tranquilidade. Uns tiros certeiros não acrescentam nada à segurança das pessoas e bens. A autoridade não se garante a disparar. Se assim fosse, os regimes impostos pela força das armas seriam os melhores. E ninguém com sentido de humanidade o admite e a História mostra que a fogueira, a guilhotina ou o pelotão de fuzilamento só prejudicam o avanço das sociedades na conquista de melhores condições de vida.
Sabe-se que hoje o medo domina. Já ninguém vive tranquilo com a porta de casa sempre aberta, como acontecia há 50 anos em muitas aldeias e vilas, como eu próprio vi na Beira Baixa. O medo generalizou-se. E a culpa, convém afirmá-lo, não é das notícias dos jornais, como alguns gostam de acusar. É da própria realidade. Há mais violência, ninguém sente grande segurança na autoridade nem confia inteiramente na Justiça. Os polícias surgem demasiadas vezes no lado do crime e a corrupção descredibilizou os juízes.

Um artigo do ‘The Sunday Times’ do primeiro domingo deste mês discutia o melhor caminho para a Justiça. Contava o caso de um britânico que ao chegar à casa de férias, em França, encarou com vandalização e roubo. Mostrou-se chocado junto do ‘maire’ da comuna – equivalente ao nosso presidente de junta – e ficou admirado por no dia seguinte lhe aparecer um jovem a substituir os vidros partidos e a fazer outras reparações. O jornalista, que também refere um libelo do rabi Sir Jonathan Sacks contra a sociedade moderna, a apontar a ausência da religião como razão de grandes problemas sociais da actualidade, conclui que a reacção da autoridade local francesa só foi possível pela descentralização do poder político existente naquele país e considera-a como o melhor caminho para uma melhor Justiça.
A reflexão é pertinente e mais profícua que a exaltação do alívio sentido com os tiros nos sequestradores do assalto à agência bancária. É fundamental não nos deixarmos trair pelo medo. Porque o medo só gera mais medo. Nunca deu segurança, justiça e paz.
João Vaz, Jornalista

Porque?


Não sei em definitivo. A essa pergunta responderei quando encontrar uma resposta que primeiro me convença. Porque nada do que te possa afirmar como justificação me seria lógico neste momento. Assumi a decisão de fechar a loja para reestruturação e balanço e tentarei levá-la ás ultimas consequências. Foste apenas apanhada no turbilhão pois decidi circunscrever os meus dias às básicas tarefas de sobrevivência, defendendo-me da apetência genética para chafurdar na merda que bem conheces.

Não, não penses que esqueci ou renego o tempo em que para tocar os limites era apenas necessário gerar as doses qb de adrenalina e deixar-me ir. Apenas e só enquanto me resta alguma sanidade abastenho-me de saciar a sede com fogo. Chama-lhe PDI, alzaimer ou esclerose, mas á muito vinha descobrindo que esta forma de vida se esgota por completo na transpiração de breves momentos que por comodismo de análise chamamos de unicos quando na verdade são unicos apenas naquela hora pois no dia e na vitima seguinte repetem-se e teimosamente continuamos a chamar-lhes o mesmo apesar de até o cheiro ser igual. Questiono-te. Valerá a pena esta pseudo orgia de sentidos quando constatamos que no final pouco ou nada perdura senão arquivo dificil de esconder e nodoas na alma impossíveis de apagar?

Espero que o tempo me ajude a entender. Porque descobri que preciso deitar no lixo da memória os mortos que transformei sem me aperceber em fantasmas, apenas e só para continuar a tê-los por perto e em contraponto ressuscitar muitos dos que deixei morrer por inação e cobarde esquecimento. Necessito expulsar de mim a opressora conciência que teimosamente me obriga a cumprir penitentes noites em branco quando me deposita no travesseiro os lamentos dos muitos esqueletos que deixei pelo caminho.

Tento perceber como e por onde se chega aqui. Será que è porque Interiorizamos como verdade absoluta que só vale a pena viver se fôr desta forma e que se não ousarmos experimentar, nos tornamos apenas comentadores daquilo que nunca sentimos. Com a mesma imaginação com que auto-desculpabilizamos, viciamo-nos em adrenalina na presunção que podemos ser os autores e os actores principais da peça que é a vida. Teimosamente mantemo-nos na boca do palco esquecendo que o público que nos ama de verdade á muito abandonou a sala cansado de esperar por um rasgo de lucidêz ou uma mudança de sentido do texto. Não querendo entender que quem ainda bate palmas é porque não tem outro sitio onde sentar e que na primeira deixa fora de tempo não terá nenhum remorso em nos vaiar.

Prometo reabrir a loja. Com outras cores, espero.


8.8.08

Cesaltina Julgada!


(Este foi o primero post deste blogue precisamente em 8 de Fevereiro de 2005. Decorei com novas ideias e palavras algumas frases e sinto prazer em republicar! Não é para isso mesmo que abrimos um blogue?)


Sábado morno com tarde a chegar ao fim. Cesaltina rodava pela cidade queimando horas. Calcorreara a marginal, subira a Julios Nyerere e percorrera toda a 24 de Julho desde o piri-piri ao Alto Maé. Mas não sentia as dores nem as horas. Apenas cada olhar ou cada gesto na sua direcção lhe faziam recordar um sentimento de culpa que teimava não a abandonar asfixiando-lhe a coragem. Tentava apagar da memória os olhos tristes dos três filhos silenciosos que pela manhã a viram sair sem sequer uma palavra lhes deixar. Mentalmente tentava construir a justificação a apresentar-lhes pelas longas horas de ausência ao mesmo tempo que tentava sem o conseguir, parar o mêdo que se lhe colara na alma. Um medo carregado de raízes interiores, profundas e seculares, herdadas dos antepassados e que obriga cada mulher a ser dote do marido pela força do lobolo. Esse medo manipulador que a tinha manietado durante os anos de casamento e que á custa de uma coragem que não sabia possuir tinha logrado empurrar até á porta, mas que se recusava a sair de dentro dela.
Ao entrar na esburacada rua da Malanga já perto de casa, olhou a montra decorada com o amarelo da Laurentina mal combinado com o vermelho berrante das cores da Coca-Cola. As vozes alteradas pelo calôr das discussões inúteis á volta de intrigas, banhadas, futebol e politica, faziam adivinhar que estaria bem frequentada nessa tarde, o feudo machista que era a unica tasca do bairro.
Decidiu transpor a porta de entrada pela primeira vez na vida. Todas as vózes emudeceram no momento como se ali tivesse entrado um fantasma. Sentiu-se nitidamente o atordoador silêncio intimadatório e acusatório. Teve a completa consciência de que aquele momento representava o primeiro frente a frente com o tribunal popular do bairro e dali apenas poderia sair condenada perpétuamente ou com as grilhetas bem mais alividadas.
Na noite anterior, a partir da esplanada daquela espelunca, todos os presentes tinham testemunhado e comentado o abandono do lar com parca trouxa, de Lucas seu marido de mais de uma década, vergado a um nunca visto silêncio e a uma humilhante retirada estratégica. Juravam alguns que na mascara de raiva patente do rosto lhe escorriam lágrimas, mas ninguem se aproximara para conferir.
Anos longos de humilhações, privações e muita miséria mal escondida, provocados por um marido déspota, militante do partido da vanguarda e da libertação desde os anos da guerra contra os bandidos armados, autoritário pela razão plena da oficial verdade única que a reduzia a ela e a todos aqueles que ousassem discordar dele a potenciais alvos a reeducar numa qualquer mata do distante Niassa.
Eterno secretário do bairro, mais agarrado ao lugar que mexilhão nas rochas, justiceiro e carrasco de todas as causas comunitárias, impecável dentro das balalaicas alvas á custa de muita barrela braçal e apoiado nos sapatos á muito a justificarem contentor do lixo mas impecávelmente brilhantes, arregimentara á sua volta um coro de falsa respeitabilidade monocórdica e cega apenas alimentada pelo medo dominante. Temido pela vizinhança dele dependente, ninguem ousava colocar em causa uma sua opinião muito menos uma decisão.
Cesaltina não era certamente a única pessoa que pensava diferente mas era a única que tinha momentos de coragem para o confrontar. E tambem por isso sentira na carne centenas de vezes a crueldade mal escondida ao mundo daquele com quem casara. Vergara-se por momentos á custa de muita porrada e em nome dos filhos. Mas vergara-se e calara-se, sem nunca se dobrar.
Sabia que naquele momento ao transpor a porta daquela cervejaria seria inquisitóriamente julgada por todos não pelos muitos anos de maus tratos e violencia a que fora sugeita e que todos testemunharam, mas pela noite anterior em que deitara na sua cama um outro homem prepositadamente escolhido tal como a hora e o local para o flagrante. Foi a unica solução que imaginou para sair daquele sofrimento pelo menos viva.
Sentiu cravadas nas costas facas afiadas e na cabeça pedradas anónimas. Como poderiam eles entender o que levou a mulher do todo poderoso camarada secretário Lucas a deitar na cansada cama familiar, um amante. E ainda por cima um camarada director, muito mais importante na hierarquia central que o camarada secretário chifrado que não passava de um peão no xadrês partidário. Um quadro superior a que o algóz justiceiro devia respeito e sobretudo medo. A escolha foi claramente dela cedendo aos avanços á muito iniciados de tão importante figura e teve extamente o efeito que previra e desejava. O camarada peão secretário foi assim obrigado pela primeira vêz na vida a aceitar uma derrota partidária, rendido á mesma disciplina cega com que se submetera toda a sua vida de militante, em nome da qual subjugava todos aqueles que dele dependiam para qualquer e todos os assuntos sociais do bairro. Depois de conferir o quadro superior competentemente dentro da sua propriedade, com as calças devidamente dobradas na velha cadeira do quarto e sem sequer descalçar umas peugas rotas nos calcanhares mas lambuzando-se na carne que ele toda a vida maltratara, agarrara a trouxa e saira de casa em silêncio. Sabia ela e todos os que o conheciam que tarde ou nunca voltaria por aquelas paragens.
De pé junto ao balcão, Cesaltina pediu um refresco com muito gelo. A desconcertada moça atrás do balcão sujo empurrou-lhe um copo florido para a frente e com perícia abriu e depositou-lhe a garrafa ao alcance da mão. Arrefecia por dentro com gelo o fogo que todos aqueles olhos lhe ateavam na alma. Dava as costas para a sala mas sentia o ensurdecedor silêncio dos olhares cravados nela. Lentamente, abriu a bolsa e retirou um inusitado maço de Palmar e fósforos e acendeu um cigarro.
- Puta!!, - ecoou em fundo repetindo-se nas paredes encardidas, quebrando o silêncio......
- Puta e cabra!!, - voltou-se a ouvir.
O sangue rápidamente lhe invadiu as faces de ébano. Deixou que a acusação se extinguisse nos seus ouvidos e penetrasse na alma. Bebeu um trago da gelada coca-cola e aspirou lentamente o fumo do cigarro. Rodou nos tacões gastos enquanto expirava a azulada nuvem de fumo para bem alto. Levantou a cabeça e sorriu de forma desafiadora deixando os alvos dentes enquadrados pelos sensuais lábios grossos bem á vista. Olhou os presentes nos olhos sem se deter em nenhum durante alguns segundos. Tinha a consciência, que para aquela turba de impotentes alcoolatras nunca valera mais que a submissa mulher do déspota secretário, mas era pelo menos respeitada. Á custa deste desafio, era a partir daquele instante mais um amontoado de carne disponivel para usar. Nenhum daqueles pseudo-machos meio ébrios teria em mais algum momento a capacidade para a classificar como uma mulher honrada. Menos ainda como sêr humano respeitável.
Naquelas mentes ôcas apenas era mulher puta de um respeitável homem do partido, traído por um seu camarada superior e na sua própria cama. Logo, tambem ele cabrão desclassificado mas sem culpa própria. Faziam das dores do secretário Lucas as suas, fechando à memória os gritos suplicados bem alto por ela e pelos filhos vezes sem conta ao longo daqueles anos, debaixo de sôcos e injurias inclassificáveis e completamente imerecidas.
E porque o traído marido era pessoa de bem, ela era de nada. Ou melhor, era classificada de puta e de cabra!!.
Uma escafiada nota de dez mil meticais deixada ao abandono em cima do balcão foi o justo preço que pagou pelo prazer da pedra de gelo que lentamente se derretia na sua boca e pela interior certeza de naquele momento se sentia compensada e livre, assumindo-se como mulher, como mãe e sobretudo como ser humano. Se na tarde noite anterior, perdera a dignidade como femea, ganhara ali a primeira batalha da sua afirmação como ser humano. Começava ali a exorcisar o medo que a acompanhara durante toda a vida e principalmente ao longo daquele dia. Transpunha assim uma primeira etapa naquele precurso sem retorno a que se tinha proposto quando aceitou sem prazer, outro corpo de homem na sua carne.
Com passos seguros e ostensivamente de cabeça levantada dirigiu-se lentamente á porta de saída perante o silencio enraivecido e atónito daquela assembleia de algozes. Todos os olhos a acompanharam com as vózes silenciadas. Com pose altiva e desafiante, fixou novamente os olhos, agora por cada um dos presentes. Ninguem ousou sequer pestanejar. Muitos baixaram as cabeças para não a olharem de frente. Sentia-se naquela mulher uma determinação sem limites, intimidatória pela demonstração de coragem, uma bravura que intimidava. Naquele preciso instante muitos daqueles homens prefeririam não estar sequer ali. Não ousaram esboçar mais um gesto ou palavra desabonatório até ela transpor o degrau de saída.
Já na rua respirou bem fundo arqueando o corpo antes altivo como se um enorme fardo tivesse saltado da sua cabeça. Tinha vencido por KO a segunda batalha. Levava na alma as nódoas negras da luta. Mas levava tambem a certeza de que elas se esfumariam no tempo. Esperavam-na em casa os filhos... e a terceira de muitas outras ... afinal o que tinha sido a sua vida até aquele dia, senão isso mesmo...

31.7.08

Um livro para toda a vida!!


«...O vento sussurrou um momento na relva e depois cresceu, trazendo consigo intensos odores a erva e a terra molhada, e a grande árvore agitou-se vivamente sob o vento. Joseph ergueu a cabeça e olhou para os seus enrugados ramos. Os olhos iluminaram-se-lhe em reconhecimento e desejou as boas vindas ao ser forte e simples que era seu pai, que pairara, com a sua juventude, como uma nuvem de paz, penetrando na árvore.
Ergueu a mão numa saudação. Disse baixinho: «Estou contente por ter vindo. Não me tinha apercebido até agora das saudades que sentia de si.» A árvore mexeu-se ligeiramente. «Como vê é uma boa terra», continuou Joseph em voz baixa. «Vai gostar de cá estar.» Abanou a cabeça para sacudir um resto de tontura, riu-se, em parte pelos seus pensamentos felizes e em parte maravilhado com o seu súbito sentimento de irmandade para com a árvore... Pôs-se em pé, encaminhou-se para a velha árvore e beijou-lhe a casca.»

(A um Deus Desconhecido / John Steinbeck)

24.7.08

Falta(s)-me!


"Escreve. Seja uma carta, um diário ou umas notas enquanto falas ao telefone, mas escreve. Procura desnudar a tua alma por escrito, ainda que ninguém leia; ou, o que é pior, que alguém acabe lendo o que não querias. O simples acto de escrever ajuda-nos a organizar o pensamento e a ver com mais clareza o que nos rodeia. Um papel e uma caneta fazem milagres, curam dores, consolidam sonhos, levam e trazem a esperança perdida. As palavras têm poder."

Paulo Coelho, in "Maktub”

Amantes


Poema roubado aqui com John Lennon - Imagine como fundo

Se amaban.
No estaban solos en la tierra;
tenían la noche, sus vísperas azules,
sus celajes.

Vivían uno en el otro,
se palpaban como dos pétalos no abiertos en el fondo
de alguna flor del aire.

Se amaban.
No estaban solos a la orillade su primera noche.
Y era la tierra la que se amaba en ellos,
el oro nocturno de sus vueltas,
la galaxia.
Ya no tendrían dos muertes.
No iban a separarse.
Desnudos, asombrados,
sus cuerpos se tendían
como hileras de luces en un largo aeropuerto
donde algo iba a llegar desde muy lejos,
no demasiado tarde.

(Eugenio Montejo).

23.7.08

Vida para alem de ti!



Quero acreditar que terias gostado de me ver hoje, mas não tenho a certeza. Contrariamente ao habitual, ontem dormi cedo e acordei bem disposta. Prescindi das conversas vazias e banais do chat e entreguei-me á solidão do quarto envolvida na leitura dum romance à muito iniciado. O sono chegou com a urgência que necessitava e o corpo massacrado pedia. Hoje pela manhã, quando o despertador me acordou, estranhamente não senti a tua falta ao meu lado e ainda menos quando saí do banho e não tive de inventar mimos para te despertar como aconteceu todas as manhãs durante os ultimos 6 anos. Num assomo nostálgico ainda olhei a cama vazia e estranhamente arrumada mas preferi desviar o olhar para o espelho observando-me completamente núa. Na verdade, fisicamente não pareço ter os 35 anos que o BI indicam. Estou magra, o meu peito espreita altivo, tenho o corpo bem proporcionado e felizmente as olheiras no rosto estão bem menos marcadas que antes, depois de algumas horas de sono profundo. Como te deves recordar nunca tive uma boa relação com o corpo. Desde menina me achava o patinho feio, facto que se agravou quando te conheci e os receios de não estar à altura das tuas expectativas se acentuaram. Receios que foram sendo agravados pelo medo de te perder, dadas as alterações anatómicas que o espelho me revelava ao longo do tempo. Incrivelmente, esta manhã não descobri nenhuma parte do meu corpo fora do lugar, muito antes pelo contrário. Como se tivesse sido parida no momento em que fechaste com estrondo a porta de casa gritando-me as tuas certezas que me arrependeria de te ter acusado de me traires. Podes ter a certeza que não me arrependo senão de te ter dispensado 6 valiosos anos da minha vida e sinto-me absolutamente perfeita. Com as formas exatas da mulher femea preparada para resistir e conquistar tudo. Núa, dancei frente ao espelho excitando-me a criatividade com a minha imagem. Solta e livre afaguei-me com as mãos e a mente e em poucos segundos estremeci intensamente. Abri de par em par as portas do guarda roupa e esqueci os piropos do escritório e para ir trabalhar escolhi uma saia bem curta e uma blusa decotada e cavada. Optei pelos sapatos baixos, porques condizem exatamente com o meu estado de espirito. Leve, fresca e despreocupada. Capaz de desejar e conquistar. Em avançado estado de libertação das amarras onde me deixaste já lá vão mais de 60 dias e noites. Claro que mentiria se afirmasse em absoluto que já não te sinto a falta. Porque ainda te descubro nos sitios mais improváveis como no acto simples de tirar o carro da apertada garagem ou no insinuante bom dia oportunista lançado pelo porteiro com ares de conquistador. Porque quando me distraio ainda sinto o teu odor matinal a água de colónia cara. Porque ainda tremo quando recordo muitas das nossas loucuras quase infantis dos primeiros meses e as recordações das poucas noites de sexo que valeram realmente a pena. No entanto percorro a via sacra de cabeça bem alta. Desfazendo-me a cada dia de mais uma das heranças que me deixaste na alma. Redescubrindo-me em cada oásis que invento pelo caminho. Separando-me de ti aos poucos e substituindo-te por mim mesma. Evitando culpabilizar-te com vinganças estéreis e dramáticas, mas sempre consciente da enorme filha putice que me fizeste passar sem outro motivo que não seja a tua ignóbil incoerência e uma voraz vontade de acrescentar mais vitimas ao teu conspurcado cv. E, com a mesma corência que te confrontei à 60 noites atrás com as evidências irrefutáveis das tuas traições, te mandei a mala porta fora e mudei as fechaduras, te repito. Gostaria que me visses hoje! Só não tenho a certeza se irias gostar da mudança!

22.7.08

Vidas ocultas!


Um fim de noite destas perguntavas-me se alguem para ser feliz ao meu lado, tinha obrigatóriamente de ser masoquista, dado que de mim apenas recebes indiferença e desamor. Confrontaste-me em vóz alta com as minhas pretensas fraquezas e medos porque não tenho a coragem de te abandonar o que seria preferível a continuar a farsa que teimosamente sustento. Atiraste-me à cara com a alegada incapacidade de dar-te apenas que seja, uma sobra do afecto e dedicação, que desbarato com outros e outras que não me merecem nem me amam, muito antes pelo contrário. Solidária, aderis-te ao clube das ex-mulheres importantes da minha vida, pois a todas fiz passar tarde ou cedo, por tudo aquilo que estás a sofrer. Gritaste-me aos timpanos que nada na nossa relação faz sentido, senão o teu grande sentido de familia e muito amor por mim e confrontas-te aquilo que pareço perante o mundo e aquilo que na verdade sou. Qual guerreira farta da batalha, ergueste o braço e a mão cansada que segura a quase eterna corda da nossa relação, preste a rebentar no dia que quiseres ou não aguentares mais. Fingi não te ouvir na tentativa pouco conseguida de diminuir-te os argumentos. Saí de cena fechando-me na concha do silêncio oferecendo-te o palco para continuares a representação em monólogo onde dramática alternas-te as lágrimas soluçantes com as palavras inquisitórias. Escutei-te sem te ouvir, olhando o vazio e tentando levar os pensamentos para lugar nenhum, mas bem longe dali. Remando contra o vento tempestuoso da consciência que me pesa mas que tenho de carregar como um destino a que não posso nem quero fugir. Impotente e sem a minima vontade para mudar, reconheço que razões não te faltam. Muitas e de todo o senso, irrefutáveis quase todas, porque verdades. Sobram-te, apenas aquelas que não conheces nem nunca conhecerás. As sórdidas e inconfessáveis. A outra face. Clandestina aos olhos daqueles que como tú não veêm para alem dos olhos. Onde sentimentos tão simples como esse teu dito amor não cabem nem fazem sentido. Onde cabem apenas e tanto, todas as contradições que um homem pode carregar ao longo de uma vida tão cheia de tantas vidas experimentadas ao limite. E no fundo, são essas vidas da minha vida por ti ignoradas e por isso desconhecidas, as razões primeiras para termos chegado a este estádio. Onde apenas existe uma saída. Sem retorno e com sentido obrigatório para o fim.

18.7.08

Pendentes!




Sabes, completei à poucos dias 35 anos. Claro que te esqueces-te como sempre. Tenho um emprego razoável pelo qual sou paga muito acima da média da maioria. Continuo a ser assediada por homens mas estou solteira pois sinto-me incapaz de ceder a principios que considero inegociáveis só para ter um na cama todas as noites. Tenho o futuro minimamente garantido até porque a falta de emoções fortes e a rotina trabalho casa permitem-me ir amealhando alguma coisa. Estou portanto em época e idade de balanço e por isso mesmo tenho andado a tentar arrumar o passado na tentativa de tornar o futuro ainda mais leve. Para isso criei gavetas fundas com fechaduras grossas que guardarei nos esconços escuros da memória e onde estou a tentar encerrar os meus fracassos e frustrações desta primeira metade de vida. Garanto-te que já fechei muita tralha bem arrumadinha, mas desde á uns dias que tento em vão encontrar um lugar para guardar o que me resta de ti e a tarefa começa a complicar-se. Primeiro tentei alojar-te juntamente com a licenciatura por acabar mas ela ocupava demasiado espaço e não cabia lá mais nada. Depois com aquela desilusão de amor dos 18 anos que me acabou com a virgindade fisica e uma passagem pelos infernos da parteira cubana, mas sinceramente achei que misturar-te com tanta medos e angustias não combinava nada contigo e podia arrepender-me um dia. Tentei ainda arrumar-te junto daquele fracasso que foi a tentativa de fazer publicar um livro mas acabei por desistir dado que com a tua mania de corrigires o que escrevo ainda passarias as noites a bater na madeira para dar palpites e incentivos. Hesitei em acomodar-te ao lado do desprezo que sinto pela cabra da minha ex-melhor amiga de infancia, que me traiu contigo naquela fim de festa do meu 30ª aniversario em que ingénuamente te pedi que a levasses a casa pois estava demasiado cansada para a acompanhar e acabas-te por acordar na cama dela na manhã seguinte, mas desisti. Por certo ainda acabariam por se enrolar de novo dentro da minha gaveta rindo-se da minha falta de tino para entender as "coisas que acontecem sem nós querermos". Agora, depois de arrumado quase tudo resta-me apenas uma gaveta e dois fantasmas para guardar para sempre. Serão os mais complicados por serem talvez os mais dolorosos e importantes. Um, a desilusão de nunca ter sido nunca mãe, apesar das inumeras vezes que te abordei a esse respeito a que tu respondias com silencios de negação e o outro a doce recordação das noites de paixão e sexo que partilhámos e a que deixaste de comparecer quando o meu peso aumentou e a tua idade pedia carne mais fresca e novas emoções. Se me permites uma suprema humilhação, antes de fechar a gaveta e fazer a chave voar pela janela dos fundos, gostaria de te voltar a colocar a unica questão importante que me recordo de algum dia te confrontar. Estarás disposto a deixar-me fechar a gaveta que me resta, apenas contigo lá dentro proporcionando-me algo que juro saberei merecer para todo o sempre? Garanto-te que te fecharei na manhã seguinte á confirmação médica, deixando-te com a chave para saires quando quiseres. Como sempre foi. Saberei esperar a tua resposta.
Um beijo

17.7.08

Café matinal


imagem daqui


Aquele homem de meia idade com quem me cruzo diariamente desde á dois meses pela manhã, tem algo de estranho e ao mesmo tempo misterioso, que me confunde profundamente. Não consigo defenir se acorda triste ou apenas amargurado ou se nada disso que eu imagino é verdade. Não parece feliz mas tambem não posso afirmar com certeza que seja infeliz. Tem uma testa altiva que lhe dá serenidade mas os olhos traem-no. A inquietude no olhar e nas mãos é quase permanente. Dirige-se à mesa, senta-se, bebe o café curto com adoçante e volta a sair parecendo ignorar completamente o que o rodeia. Normalmente observo-lhe as mão inquietas e os olhos nervosos, tentando entender-lhe a alma mas acabo por não chegar a nenhuma conclusão quando fixo o olhar por alguns segundos no perfil da face. Parece uma mascara de pedra. Granitica. Nada do que se passe naquele micro-cosmos citadino com odores fortes a torradas queimadas com manteiga, sumo de laranja e café forte, lhe faz mexer um musculo facial que seja. Sinceramente não consigo formular uma opinião acerca dos mistérios que aquele homem transporta mas calculo que sejam muitos e pesados. Acho que a partir de amanhã vou-me dedicar a observar a mulher que entra sempre dois passos atrás, se senta na cadeira ao lado, e terminado o café se levanta uns segundos depois dele, seguindo-o até á rua. Parece ser sua filha mas pode ser tambem a esposa ou namorada ou mesmo amante. Pode até ser uma colega de trabalho ou simplesmente uma secretária dedicada pois é ela que paga o café todas as manhãs. È muito jovem ela e ainda mais bonita. Usa um perfume de jasmim que combina mal com a sensualidade urbana que transpira em cada curva do corpo. Tem lábios atrevidos e peito proporcionado. Usa saias curtas e justas e por vezes esquece de fechar os ultimos botões do decote. Tem olhos grandes e escuros ela, que como focos de luz percorrem toda a sala procurando outros olhos onde se fixarem. Tenho a certeza que muitas vezes procura exatamente os meus para aquele exercicio estranho mas normalmente evito olhá-la porque me desconcerta e incomoda mas amanhã vou resistir aquele fogo que queima e tentar conseguir atravéz deles, desvendar os mistérios que aquele homem oculta e que tanto me deixam intrigado.

16.7.08

Da Poesia


Gosto de lêr o que este homem escreve. Será que ele sabe?

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Fui ao talho. Queria comprar carne para grelhar. O talhante pegou num pedaço de carne e disse que era muito bom, de qualidade. Pegou na faca que lhe pareceu mais afiada e cortou-me um bife. Era um grande bife. Cheguei a casa, temperei-o com sal, ervas aromáticas, alho. Fiz as brasas. Deixei que elas esmorecessem um pouco, para que a carne grelhasse lentamente. A carne lá grelhou. Parecia suculenta, tinha boa cor, mas era rija como os cornos da vaca que a tinha dado. Pensei no talhante. Será que alguma vez leu um verso? É possível. Será que alguma vez escreveu um verso, um poema? É possível. Apenas sei que ele pegou na faca que lhe pareceu mais afiada, cortou um bife, entregou-me o bife, paguei e ele era rijo como os cornos. Tudo o resto que possa ter ocorrido entre as várias acções não me interessa.

15.7.08

Para alguém que nem sempre sei quem é...


Eu adoro esta mulher. Será que ela sabe?
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Porque me ensinaste que o amor é livre, aprendi a amar-te na ausência e na distânca; a amar-te sem te ter para mim...
Às vezes reencontro-te na brisa que vem do mar, no sol que poisa na minha pele. Ainda na outra noite saltaste do meu copo para um olhar qualquer, um olhar perdido, tão penetrante como indecifrável. Vi-te assim, galante e bem parecido e a barba impecávelmente feita. Meti os dedos no teu cabelo e reparei que eras, de facto, tu! Aproximei-me dos teus lábios para te beijar devagar mas o teu beijo era diferente, nervoso e apressado, quase insaciável. Apertei-te contra mim para, de novo, sentir o bater descompassado do teu coração mas as tuas mãos inquietas insistiam em desenhar no meu corpo chamas ardentes, numa urgência cega e surda, indiferentes a todos os meus apelos.

E depois... depois fechei os olhos e afastei-me para deixar-te partir novamente, sem olhar para trás. Apenas por medo, muito medo de consumir-te no momento e nunca mais me apareceres. E fiquei a tecer os dias, as horas e os minutos, à espera de ver-te surgir de novo, porque sei que regressas sempre, seja sob que forma for...

Um dia, talvez não voltes a partir.


14.7.08

Façamos a festa, então!

O corpo não é uma máquina como nos diz a ciência.
Nem uma culpa como nos fez crer a religião.
O corpo é uma festa.

11.7.08

DESABAFOS DE UMA MULHER MADURA


Apanhado algures na Net e dedicado a uma amiga muito especial!
Quando era menina esperava um dia ter um namorado... Seria bom se fosse alegre e amigo...bonito para mostrar ás amigas.
Quando tinha 18 anos, encontrei esse jovem e namoramos muito; ele era meu amigo, mas não tinha paixão por mim. Nunca consegui que levasse a nossa relação mais para alem de um namoro. Então percebi que precisava de um homem apaixonado, com vontade de viver, que se emocionasse, que me fizesse tremer de paixão só de o vêr...
Aos 20 anos na faculdade saía com um colega muito apaixonado, mas era emocional demais. Tudo era terrível, era o rei dos problemas, chorava o tempo todo e ameaçava suicidar-se. Dependia de mim para tudo. Descobri então, que precisava de um homem estável.
Quando tinha 25 anos já formada e em inicio de carreira, encontrei um homem bem estável, sabia o que queria da vida; Sério e adulto. Demasiado sério e muito adulto para mim. E era muito chato: queria sempre as mesmas coisas - dormir no mesmo lado da cama, futebol no sábado e cinema no domingo. Era totalmente previsível e nunca nada o excitava. A vida tornou-se tão monótona que decidi que precisava de um homem mais excitante.
Aos 30 anos consolidava a carreira profissional e encontrei finalmente um homem com tudo de bom. Inteligente quase brilhante, bonito, bom falador e muito excitante, mas não consegui acompanhá-lo na pedalada. Ele ia de um lado para o outro, sem se deter em lugar nenhum. Fazia coisas impetuosas, namorava com qualquer uma das minhas amigas e me fez sentir tão miserável, quanto feliz ocasionalmente na cama. No começo foi divertido mas depressa caí na certeza de que não teria futuro. Aguentei quanto pude mas acabei desistindo vergada sob o peso de tanto chifre.
Decidi procurar um homem com alguma ambição para com ele construir uma vida segura. Um homem sereno e estável. Procurei muito, incansavelmente...
Aos 35 atingi práticamente o topo da carreira profissional e encontrei esse homem. Apresentável, ponderado, ambicioso e com os pés no chão. Carreira profissional em ascenção. Apartamento próprio, casa na praia, carro caro, solteiro e sem pendentes familiares por resolver. Pretendia casar em casar com ele e chegámos mesmo a marcar a data. Mas era tão ponderado quanto ambicioso e trocou-me por uma herdeira rica e feia a poucos dias do desenlace. E ainda me procurou convencer atravéz de uma longa carta das razões da sua opção...
Hoje aos 40 anos, depois de uma vida sem grandes emoções, completamente realizada profissionalmente, sou solteira, sem filhos, sem futuro familiar à vista e cheguei á conclusão definitiva de que sou minimamente feliz porque me limito a gostar de homens com pau duro e capazes de uma hora de sexo compensador por semana... apenas isso.
Nada como a simplicidade para envelhecer serenamente!

4.7.08

Cerveja!!!!


Os verdadeiros apreciadores de cerveja não podem perder uma festa destas!!!

2.7.08

Sentimentos!


Com uma vénia a Dila

Não quero fazer grandes generalizações sobre as mulheres. Não estou aqui para isso. Acho de mau gosto. Só digo isto: elas não têm sentimentos. Porque na verdade os homens é que são românticos. Os homens é que dizem coisas como:
"Conheci uma pessoa. Ela é fantástica. Se eu não fico com ela, estou fodido. Não aguento mais. A sério. Ela transformou completamente a minha vida. Tenho um emprego, uma casa; e tudo isso já não vale nada. Não aguento mais. Tenho que estar com ela. Porque senão acabo entrevado, alcoólico e com umas calças piolhosas. E nunca mais saio à rua".
Ora, isto é o que as mulheres dizem sobre sapatos!!

26.6.08

Momentos que não se esquecem!


Sou só uma mulher, em frente a um homem pedindo que a ame

(I' m just a girl, standing in front of a boy asking him to love her).

Recado!


"Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde às três eu começarei a ser feliz! Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieto e agitado: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar meu coração… É preciso que haja um ritual"
“É preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas”...


Ela começou a crescer, parecia vir do nada. Ficou horas se arrumando e ajeitando suas pétalas... E é linda! Mas também orgulhosa, caprichosa e contraditória. O pequeno príncipe apaixona-se e vive para atender aos seus caprichos: um lanchinho, o para-vento, uma redoma. Mas ela nunca está satisfeita e o nosso herói decide partir.Embora pareça contraditória, entre caprichos e sabedoria, a rosa é extremamente feminina e sedutora. Por isso, cativa o coração do principezinho.
Tu te tornas eternamente responsávelpor aquilo que cativas.
A sábia raposa ensina o pequeno príncipe a compartilhar. E explica-lhe que, apesar de existirem milhares de flores parecidas, a dele é única, e foi o tempo que ele dedicou a ela que a fez tão importante. Cativar quer dizer conquistar e requer responsabilidade. Responsabilidade por um amor, por um amigo, pelo talento que possuímos e pelo que conquistamos em nossa carreira profissional e pessoal. Seja responsável pelas suas conquistas. Valorize-se. Cuide do que você cativou.


Antoine De Saint-Exupéry - O Príncipezinho

19.6.08

AUTO DAS CABRAS (acto 1 e único)


ela, insegura - olá! boa tarde. desculpa a forma como marquei este encontro. necessitava falar contigo e mais à frente vais perceber as minhas motivações. não te recordas de mim?
ele – boa tarde. sinceramente não. mas esse sorriso não me é completamente estranho.
ela, enquanto se sentava mesmo antes de ser convidada não te vou fazer perder muito tempo. farei de tudo para não te arrependeres de ter aceite o convite.
ele, tentando perceber o guião do filme espero bem que não me arrependa mas afinal quem és e o que pretendes de mim?
ela - sou irmã mais nova da S.... na noite antes de ela partir para a europa conheci-te em casa dela.
ele, tentando ligar o nome a alguem S... ajuda-me a recordar...
ela médica, clinica geral, trabalhava na clinica x....
ele sim...! agora sim recordo... e entendo porque o teu rosto me è familiar. vocês são muito parecidas. isso foi á uns bons anos e tú eras uma menininha ainda. ela foi fazer especialização. nunca mais soube nada dela. tens tido noticias?
ela - foi á sete anos. eu tinha 19 anos. ela concluíu a especialidade. casou lá e vem em breve para o marido conhecer a familia.
ele - e vem para ficar?
ela - não. trabalha num hospital onde o marido tambem é médico... mas porque perguntas? será que ainda estás interessado em reatar a relação?
ele, engasgando-se reatar? não. nós não tinhamos própriamente uma relação. eramos apenas bons amigos...
ela, deixando cair o ar inocente ...deixa-te de armar em inocente. eu sempre soube de tudo e com os pormenores mais intimos e picantes. na noite que te conheci fui a casa dela prepositadamente interromper a vossa despedida, apesar de ela me ter proibido de o fazer. queria muito conhecer-te pessoalmente.
ele, engasgado-se. foste proibida por ela de me conheceres?
ela - sim. ela contava-me cada um dos vossos encontros, o que lhe fazias sentir e como reagias ao que ela te fazia. até sei das vossas aventuras envolvendo uma das ex-amigas dela quem acabou ficando inimiga por tua causa dado que por algum tempo continuas-te a encontrar-te com ela.
ele, embaraçado bem... isso não foi bem assim...
ela, poderosa ...deixa-me continuar porque sei tudo...
ele, mudo - ...!!!
ela, embalada - como ela ia sair por dois anos eu propus-lhe por brincadeira, mas em má hora, ficar a tomar conta de ti até ela voltar. esta proposta parva provocou uma zanga feia entre nós e ainda hoje é problema não fechado.
ele com ar de ingenuo - não acredito. mas se é verdade, nessa missão falhas-te. eu tenho andado perdido por aí estes anos todos sem ninguem que...
ela enfadada com tanta hipocrisia ...perdido... pois... mas não foi por culpa minha. ela disse claramente que se eu me aproxima-se de ti deixava de ser irmã dela. fez-me jurar que não deixaria que me tocasses. e cumpri.
ele dramatizando exageradamente - que má essa tua irmã. imaginas o que perdemos os dois... não lhe conhecia essa faceta. achas que eram ciumes de ti?
ela - acho que não e se perdemos ou não o tempo dirá. ela sabia que ao partir a vossa relação acabava ali. acho que ela apenas me pretendia proteger porque tú não prestas!
ele, falsamente indignado - espera... afinal em que ficamos. se não presto aquilo que ela te contava a nosso respeito afinal era mau ou bom?
ela - para mim nessa altura era bom demais. pela boca dela transformas-te-te no meu ícone sexual. desejava estar no lugar dela, apenas pois nunca conheci ninguem que me levasse a sentir aquilo que ela dizia sentir. mas hoje sei que ela tinha razões para me proteger.
ele obrigado pois isso parece-me um elogio. mas desculpa existe algo que não entendo. que sabes a meu respeito para afirmares dessa forma categórica que ela tinha razão e que não presto?
ela conciliadora sei tudo meu bem..., ao longo destes seis anos e de cada vez que teclo com ela no msn ou falamos ao telefone, continua a referir-se a ti como o unico homem que lhe fez sentir mulher.
ele, aparvalhado eu não acredito. mas disseste que ela casou.
ela sim, é verdade. inclusivamente teve namorados antes do marido, com quem teve relacionamentos sérios. mas deixás-te nela marcas demasiado profundas que nunca vão passar. por isso digo que não prestas.
ele, indignado e quase já a terminar por ali com a conversa que história mais estranha essa. e tú agora vens contar-me isso tudo porquê? queres culpar-me de alguma coisa?
ela não. não te culpo de nada. mas ao longo destes anos, tenho-me cruzado contigo muitas vezes nos mais diversos locais e tu nem me olhas. não me reconheces o que de certa forma foi bom, pois habituei-me a olhar o teu comportamento sem ser notada. e sei que tiveste muitos relacionamentos e quase todos eles acabam da mesma forma. varias vezes te vi com ex-relacionamentos. parece que gostas pouco de arquivar o passado...
ele prestes a explodir mas tentando pular na frente ...não entendo onde pretendes chegar e não tens o direito de me julgar dessa forma. sinceramente não te reconhecia como irmã dela. apesar de seres muito bonita e sexy...
ela, interrompendo-o ...pára com os elogios! conheço a tua forma de ser. sabes, quando olho para ti não consigo entender porque a marcás-te desta forma. ela é uma mulher linda, realizada e segura. tú tens mais uns vinte anos que ela e de bonito não tens nada apesar do letreiro na testa com a palavra “sexo”...
ele, fingindo inginada inocencia letreiro na testa...?
ela – ... esquece não te estou a acusar de nada . ela tem passado a vida a comparar-te com todos os homens que conheceu depois de ti. até com o actual marido apesar de ele ser muito mais interessante que tú e bem mais novo.
ele, com o ego cheio devolvendo a bola mas grande parte da culpa è tambem dela. ela era efectivamente uma mulher muito atraente. e sabia exatamente o que queria e o que esperava de mim. dei-lhe apenas aquilo que ela merecia. e tambem recebi o melhor dela como...
ela ... espera. poupa-me aos pormenores. essa foi a principal razão porque nunca fiz nada para me insinuar perante ti. medo de não estar á altura daquilo que sei tu exiges. e se o fiz hoje foi porque ela retirou o pedido para eu não me aproximar de ti e inclusivamente me pediu que te procurasse para...
ele, insistentemente olhando o pronunciado decote ...mas acabas-te de afirmar que tens medo de não estar á altura. ou perdes-te esse medo quando ela retirou o pedido?
ela não quero falar de nós agora. como te disse venho a mando dela.
ele, intrigado mando dela? que me quer ela passados estes anos todos?
ela aqui começa a explicação de estarmos aqui sentados. eu vivi com ela na europa os ultimos 6 meses. adorei estar lá mas regressei contra vontade á uma semana...
ele ...contra a tua vontade...?
ela ...sim. cometi um erro muito grave enquanto vivi lá, pois numa noite de festa e copos ela surpreendeu-me na cama com o marido.
ele, atordoado .... e agora? .... que tenho eu com isso?
ela, preocupada agora para recuperar a confiança dela prometi-lhe que quando ela chegasse, ela vem uns dias à frente do marido, tu estarias no aeroporto esperando-a apenas para lhe garantires que contigo eu nunca tive nada! o que è verdade... e muito importante para ela.

ele, embasbacado ...mas que vai mudar com isso?
ela se confirmares que nunca te tentei seduzir, ela ficará a saber que não vivo obsecada pelos homens da vida dela e aquilo que aconteceu com o actual marido foi um momento de fraqueza que...
ele a armar-se em moralista ...será que foi?
ela ...sinceramente não sei. ela disse que me perdoaria com o tempo, mas isso agora não interessa. ela sabe que tú quando a vires vais recordar tudo aquilo que viveram juntos e não resistirás a tentar voltar a fazer amor com ela. se o fizeres vais fazê-la sentir vingada da traição que eu e o marido cometemos. ela diz que tem de o trair para voltar a sentir-se feliz com ele mas que tem de ser contigo senão a vingança não resulta em nada.
ele, de novo atordoado comigo?... não sei....
ela com ar de cabra fingida olha, não sei o que vais pensar de mim daqui para a frente. mas sei que cometi uma falha grave e necessito do perdão dela. e apenas tu me podes ajudar. para isso estou disposta a tudo.
ele, preparando-se para mais uma bomba – tudo... inclue o quê?
ela, agora cabra mas esquecendo-se de disfarçar- se colaborares comigo a unica coisa que te posso garantir é que não te arrependerás e...
ele, impaciente e falso ...já me tinhas dito isso. mas sinto-me mal neste papel. no fundo voces as duas combinaram tudo isto e usam-me agora para resolver os vossos problemas de irmãs...
ela mais cabra ainda se tal é possível ...talvez tenhas razão. mas é assim... ela chega na próxima semana e fica por cá apenas 20 dias. o vosso ninho de amor continua lá pois a casa é dela e já está desocupada... os dois poderão recordar e reviver a vossa paixão ao longo da primeira semana antes do marido chegar e eu como altura já estou livre do compromisso de não te tentar seduzir ficarei a tomar conta de ti antes e depois de...


O PANO CAI. O CONTRA REGRA, COMPLETAMENTE ENSANDECIDO CORRE ATRÁS DA PROTAGONISTA BATENDO-LHE COM O PONTO NA CABEÇA REPETIDAMENTE... O PROTAGONISTA SAI PELOS FUNDOS A ASSOBIAR UM TANGO DA TANGA... O PUBLICO LEVANTA-SE EM SILENCIO MEDITANDO NO TEMPO QUE ACABA DE PERDER...

15.6.08

Noites de Maputo


Depois de dois anos de afastamento voluntario das tertulias e das vivências nocturnas de Maputo, um jantar de sabado à noite entre amigos, deu o mote para uma visita a uma das catedrais na moda.
Entre a fauna femenina uma esmagadora maioria de caras desconhecidas. Impressionante a forma como a paisagem muda. Conhecidas, apenas algumas poucas resistentes ao tempo, que teimam em adiar a reforma e não deixar crescer as teias de aranha.
Centenas de corpos esculpidos, rostos frescos e bonitos. Tambem muita vaidade, rugas prematuras e banhas a necessitar de ginásio. Alcool em quantidades industriais e o instituicional engate ocasional que nunca muda. Um ritual caracteristico da noite de Maputo onde a oferta normalmente vence claramente a procura.
Sou abordado e reconhecido por uma das antigas combatentes, recordada por esticar a noite até a famosa hora das vassouras na esperança de uma derradeira oportunidade. Sem perder tempo enquanto coloca um ar de donzela perdida dispara-me ao ouvido:
- Estás em forma, parece que o tempo não passa por ti! Sózinho ou trazes mochila?
Perante a ostensiva rapidez do ataque, destreinado e desabituado, meto os pés pelas mãos:
- Isso é dos teus olhos. Tu é que estas cada dia mais interessante!!
Aproveita o embalo e responde-me certeira:
- Nada disso, tou é mais velha, carente e puta! E sem grande paciência para perdas de tempo!
Protejo-me finjindo nem ter ouvido. Desvio a conversa para banalidades ainda maiores enquanto certifico que, se afinal algo mudou nos ultimos dois anos foram apenas as moscas.

8.6.08

De que será?



3.6.08

Desencontros!!!


Pescado em espelho meu. Com uma respeitosa vénia!

O marido ao chegar a casa diz à mulher:
- Querida hoje vou Amar-te...!!!!
Responde a mulher:
- Quero lá saber, até podes ir a Júpiter, desde que me deixes dormir...